Uma iniciativa da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural de Minas Gerais (Emater-MG), no município de Liberdade, Sul do estado, vem colocando em prática uma agenda de educação ambiental desde 2015.
A iniciativa da empresa pública, que é vinculada à Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), tem contribuído com a formação de estudantes do ensino fundamental e médio, por meios de ações que incentivam os cuidados e a proteção do meio ambiente do município, nas áreas urbanas e rurais. Também tem ajudado produtores e agricultores familiares que desejam recuperar áreas e nascentes degradadas de suas propriedades, com a distribuição de mudas de plantas nativas da região e da Mata Atlântica.
Nestes seis anos de existência, a empreitada realizou inúmeras etapas práticas de educação ambiental, com o apoio e parcerias de diferentes grupos e instituições da sociedade local, entre elas a Escola Estadual Frei José Wulff e a Escola Municipal Professor José Estevão, além do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS).
Com a participação dos alunos das duas escolas públicas, foram revitalizadas duas nascentes das comunidades rurais Mato Virgem e Vargem da Imagem. O foco foi a melhoria do abastecimento de água para 122 moradores dos lugares. No CRAS, foi montado um horto, com cobertura e irrigação aérea, para que os estudantes plantassem sementes de espécies nativas e cuidassem das mudas formadas.
O extensionista agropecuário do escritório local da Emater-MG, em Liberdade, e também autor do projeto, André Luiz Rezende, explica que as mudas, cultivadas no pequeno horto, foram plantadas não somente no entorno das nascentes, mas também em uma praça da cidade e em um terreno da prefeitura, que ele chama de área institucional (espaço repassado à prefeitura, para compensar a degradação provocada pela construção de uma avenida, durante um loteamento). Todo plantio foi executado pelos estudantes antes da pandemia, entre 2018 e 2019.
Motivação e logomarca
“Esse projeto motivou muito. Os alunos fizeram passeata pelas ruas da cidade para apresentá-lo à população e chamar a atenção para a preservação do meio ambiente. Eles limparam a praça e fizeram o plantio de 350 mudas de ipês de três cores, que foram doados por duas empresas. Também participaram da arborização da área institucional que tem 2 mil metros quadrados”, explica o técnico da Emater.
A professora Najara Christiane de Carvalho, que na época dava aulas nas duas escolas públicas, a estadual e a municipal, participou de todo o processo e é testemunha da motivação que estimulou estudantes e professores, na ocasião.
“O projeto foi em três etapas. Trabalhamos o tema dentro das salas de aula; levamos os alunos da 6ª série para fazer o plantio na serra, na beira das nascentes. Numa outra etapa, mobilizamos as turmas da 7ª, 8ª, 9ª e ensino médio para o preparo das sementes, no horto”, relata.
Segundo a professora, cada um preparou a terra e plantou uma semente, no início do ano. No final do ano seguinte, os alunos das duas escolas plantaram as mudas numa praça da cidade. “Foram dois anos de trabalho e eles perceberam a importância das árvores e nascentes”, relatou.
Principais agentes do projeto da Emater-MG local, os estudantes participaram coletivamente de todas as ações e decisões da iniciativa, inclusive com a promoção de um concurso de desenho para escolher a logomarca do trabalho, realizado entre os estudantes das duas escolas. A aluna do então 2º ano do ensino médio, Maria Carolina da Silva Vita, da Escola Estadual Frei José Wulff, foi a vencedora da prova. Ela produziu o mapa da cidade, cortado por rios, como se fossem veias cercadas de árvores.
Na opinião da jovem, hoje com 17 anos, Liberdade Sempre Verde é um projeto que deixou os estudantes felizes, até pelo caráter lúdico das atividades. “Foi um projeto interessante porque é muito raro dentro da escola pública a gente ter um contato tão direto com a natureza assim, com a dinâmica do natural. É mais aquela aula teórica, cheia de coisas. Acho que foi uma coisa que trouxe o teórico para a prática, para o visível”, argumentou.
André Luiz lembra que ainda falta encerrar com “chave de ouro” essa etapa do projeto com os estudantes, com a produção de um documentário sobre a fauna e flora do município. A ideia, que foi também discutida com os alunos das escolas, propõe um filme para registrar os resultados do trabalho e apresentá-lo para os pais. No entanto, com a chegada da Covid-19, a proposta foi suspensa, segundo o extensionista. “Infelizmente, com a pandemia, não tem jeito. Como levar alunos no campo para filmar as árvores nativas, as áreas de nascentes preservadas?”, indaga.
Doação de mudas
Liberdade Sempre Verde também é um projeto voltado para auxiliar agricultores familiares, e demais produtores, preocupados em preservar as nascentes que abastecem suas propriedades rurais. Por isso, uma das ações do projeto é também distribuir gratuitamente para esse público, kits de mudas de plantas nativas, como jequitibá, ipê, goiabeira, araçaeiro, ingazeiro, urucum, sabão de soldado, pau-formiga e até pau-brasil.
Segundo André Luiz, o projeto já distribuiu, até o momento, 12 mil mudas, beneficiando cerca de 300 pessoas, entre produtores e moradores rurais. “Há uns dois, três anos teve uma queda muito grande nas águas das nascentes, por isso essas mudas são para ficar à disposição do produtor. Ele pode ir lá (no horto do CRAS) e pegar o kit com 25 a 30 mudas. De graça, levam e plantam nas nascentes”, informa.
Para o extensionista da Emater-MG, a recuperação das nascentes foi a ação mais importante do projeto, pois está possibilitando o abastecimento das propriedades rurais e, portanto, viabilizando a vida dos moradores locais e as atividades desenvolvidas nos lugares. “A nascente é importante para tudo. Pensa bem o tanto de produtor que está ao longo dos córregos, alimentados por essas nascentes. Tem muito produtor que depende delas para abastecer a casa dele e para suas atividades como a criação de animais”, salienta.
O produtor Rone Araújo foi um dos primeiros a se beneficiar do Projeto Liberdade Sempre Verde. Graças ao projeto ele pôde reflorestar e recuperar parte da mata ciliar de um córrego que passa pela sua propriedade. Dono de um sítio, onde cria gado leiteiro, Araújo conseguiu as mudas que foram plantadas às margens desse curso de água, que também banha terras vizinhas. Ele conta que no seu sítio também tem uma mata nativa de oito hectares, onde fica a nascente do córrego, que deságua no rio Grande.
“Plantei as mudas e a maioria vingou. Estão bonitas, principalmente as plantas daqui da região, como aroeira e ingá. Meu pai também recebeu mudas e plantou na margem do rio Turvo, que também deságua no Rio Grande. Na época, a margem de lá não tinha uma árvore. Deu tudo certo com ele. Agora as plantas cresceram e formaram uma mata bonitinha”, afirma. Para Rone Araújo, esse é um projeto que não pode acabar. “Deveria ser permanente. Me ajudou muito. Consegui refazer toda uma área”, comemora.
Perfil rural
O escritório da Emater-MG de Liberdade tem meta anual de atender 386 agricultores familiares, nas mais diversas demandas, mas atende muito mais, segundo o extensionista André Luiz. “Na prática o atendimento é muito maior. Em 2020, atendemos 1.300 produtores com repetição e 400 sem repetição”, afirma.
Segundo ele, a atividade predominante no município é a bovinocultura de leite, com produção estimada entre 42 a 50 mil litros de leite por dia, que são vendidos para os laticínios da cidade. A bovinocultura de carne também tem papel de destaque, sendo a segunda atividade na zona rural. Em seguida, vem o cultivo de milho para silagem e grão e o plantio de eucalipto que ocupa área de 1.260 hectares nas terras do município.