Coluna | Prosa Caipira & Cia
Sátiro dos Reis
Jornalista e Filósofo caipira formado nas barrancas do Rio Verde, é contador de causo e gosta duma boa pescaria de beira de rio. Jura de pé junto que em vidas passadas já foi violeiro, peão boiadeiro e sanfoneiro nordestino. Atualmente cultiva abobrinhas, e outras sátiras a mais, no terreno fértil do humor descompromissado e da livre imaginação. * Preste atenção: qualquer semelhança com fatos ou pessoas pode não ser mera coincidência, hein!
Ajoeiô tem qui rezá
26/02/2008


Oceis sabi quieu gosto di umas filôsfia, intão dia dessis, inquanto a chuva gotejava nu teiado lá di casa, ieu fiquei pensano: dondi será qui vem essi módifalá “joeiô tem qui rezá?”. Foi intão qui mi percurô uma lembrança lá dus tempo do onça ou du “guaraná cum rôia”, como dissi a Cumadi Marluce, trazeno argumas ixpricação. Primero alembrei qui podia tê sido inventado por argum padre qui quando viu o cristão joeiado na igreja mandô o cabocro i logo rezano pá num perdê tempo i ganhá umas bsorvição mais rápida dus pecado, mais isso num ficô bem craro si teria contecido anssim memo. Adispois pensei qui o “joeiô tem qui rezá”, começô quando as reza era im latim. Como o pessoar num intendia nadica duqui o padre falava na missa, maianssim memo tinha qui fazê di conta quintendia, pá num ficá ali cum cara di besta quando joeiava tinha qui fazê di conta qui tava rezano, vai daí qui argum caboquim muito do isperto passô a si diverti cum isso falano qui quem joeiava tinha mais era qui rezá. Cumpadi Irineu deu um parpiti di qui nu tempo dus iscravo, us capataiz das fazenda ali pás banda di Treis Ponta era mandado a desce as bordoada naqueles neguinho qui num dava conta du riscado nas prantação, intão quandu isso contecia tinha iscravo qui pedia pelomordideus prá num levá pancada, só quisso num tava resorvendo purmódiquê us capataiz descia o côro anssim memo. Intão, Inhá Carminha, um nega véia rezadora do lugá, inventô di dizê prus irmão qui si só joeiá e pedi pelomordideus num tava arresorvendo na hora dus castigo, intão o meió era joeiá i rezá memo, nem qui fossi uma ave maria pá nossenhoradaparecida. “Vai qui o capataiz seja devoto da santa, intão eli é capaiz di dá um perdão pá vós miceis meus fio”, aconceiô ela. Bem, se isso é verdadi ieu num sei, só sei qui foi anssim qui mi contarô. Si ocê tive ota ixpricação, manda pá nóis. Si num tive, num isqueça: “As veiz, quanu ocê menos ispera chega a hora du vamuvê, i aí num tem jeito não, joeiô tem qui rezá”.

Aí dizqui um paulista tava trabaiano pesado qui só veno na coieita di café ali pás banda di Bordamata, i quanu oiô di banda viu o baiano pitano deitadim numa redi, na maió fórga du mundo. Ontoncê eli falô pru baiano: “ Ocê sabia qui a preguiça é um dus sete pecado capitar?”. O baiano oiô bem prô paulista, deu uma pitada maió no paiero e arrespondeu: “A inveja tamém, viu!”. Tá veno? Ieu qui nem sabia qui tinha pecado capitar; Ara, si tem capitar deve tê interior tamém, némess? Falá di interior, diz qui o Tião da Geni, um caboquim ali das banda da mutuca, chegô im Varginha pá i no médico, mais, meiqui assustado cum os preço das consurta, eli arresorveu priguntá pruma muié qui tava ali nu pondionbus perto do hospitar regionar si ela num sabia dargum médico qui era maim conta. Logo a muié contô prele qui sabia sim, dissi qui o médico além di cobrá a metadi du preço dusotro, inda quando a pessoa vortava di novo eli só cobrava a metadi da metadi. Prá incurtá, o Tião quidi bobo num tinha nem a cara, nem bem quientrô no consurtório du médico foi logo istendêno a mão prele i falanu bem arto: “ Ói ieu aqui di novo, doto!”.

Essi causo foi Cumpadi Tom qui mi conto, diz qui um industriar lá di Sumpaulo tava interessadu im fazê uns investimentu nu interiorrrr, cumo diz eis pur lá. Intão eli veio vê uma propriedadi ali pertim di Ariado, i chegano lá anssim quieli viu um caboquim tocando umas vaca, parô i cum ar di quem tava interessadu foi priguntano:

- As vacas dão muito leite?

- Quar qui o sinhô qué sabê? As maiáda ou as marrão?

- Pode ser as malhadas.

- Dá uns dozi litro por dia!

- E as marrons?

- Tamém uns dozi litro por dia!

O hómi pensô um poco i logo tornô priguntá:

- Elas comem o que?

- Quar? As maiáda ou as marrão?

- Sei lá, pode ser as marrons!

- As marrão come pasto e sar.

- E as malhadas?

- as maiáda tamém!

O hómi intão num conseguino iscondê qui tava brabo dimais da conta com o caboquim, sôrto os bicho:

- Escuta aqui! Por que toda vez que eu te pergunto alguma coisa sobre as vacas você me diz se quero saber das malhadas ou das marrons, sendo que é tudo a mesma resposta?

Ocê qué sabê? É que as maiáda são minha!

- E as marrons?

- As marrão tamém, uai!

Si oceis gostarô num sei, ieu já tô gostano muito, manda um emeio pá nóis ou prô Yorkuti(sem víru), quieu tô ino cumê um peixim fritu lá nu Bar du Cumpadi Ernesto, já ixprimentô? Inda não? Ô coitadu! Prestenção! Cumpadi Irineu é quem diz: “ Quem fala dimais num tem tempo pá dá bão dia”. Nóis é bão di filosfia tamém! Larga meu pé anarfabeto político! Sô brasileiro, uai! Nóis votô manóis xinga. Quem polui o meiambienti acaba cum a vida da genti. Pópará di poluí, sujão! Òia os musquito da dengui! Xô febre amarela! Bem quieu tava avisano, hein!Tempocabô!

Psiu: quarqué erro qui oceis notá, num arrepára não!

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