Coluna | BRASILzão
Diego Gazola / Fábio Brito
Diego Gazola,(MTB-SP-44.350), é repórter-fotográfico.Graduado em Comunicação Social pela UMESP-SP, tem se especializado em fotojornalismo de viagens. Em cinco anos, já percorreu mais de um mil municípios em todo o Brasil para avaliação dos atrativos e documentação fotográfica dos Guias Turístico-Culturais da editora Empresa das Artes.As fotografias de Brasilzão são de sua autoria.
diegogazola@uol.com.br

Fábio Brito. Presidente da Empresa das Artes, editora com mais de 160 obras publicadas nos segmentos de turismo, meio-ambiente e cultura; de guias de viagem a livros de arte. Os textos de Brasilzão são de sua autoria.
fabiobritocritica@yahoo.com.br
Santuário da Umbanda em terras paulistas
05/11/2007



Em plena mata atlântica, a tolerância aos diversos cultos

Sincretismo brasileiro

Visando a energização do corpo, os adeptos enfrentam a água gélida da cachoeira

Cada templo tem a sua própria organização

Momentos intensos quando os espíritos se manifestam

Diretrizes para um convívio civilizado

Oferendas aos Orixás

- O som dos atabaques anuncia o início da sessão. Aos poucos chegam os espíritos, que são incorporados por pais e mães-de-santo abrigados nas tendas, pequenos templos do Santuário Nacional da Umbanda.

- Do que você está falando?

- Estou recordando os momentos que vivenciei num terreiro em meio à mata atlântica. Um lugar fascinante, freqüentado por centenas de pessoas que ali buscam o equilíbrio e a exteriorização de suas crenças religiosas, como forma de contrabalançar as tensões a que são submetidos no dia-a-dia das grandes cidades.


Várias crenças convivem em harmonia no santuário

- Mas este lugar não seria o Vale dos Orixás?

- Sim! O local é também conhecido como o Vale dos Orixás! Num terreno onde antes existia uma enorme pedreira, criou-se este pequeno paraíso, onde foram replantadas 60.000 árvores que permitem a todos os freqüentadores manter contato com a natureza e admirar as estátuas de 10 metros de altura que representam os nossos orixás. Oxalá, o orixá supremo, em breve terá também sua estátua erguida; ela está sendo construída por um brasileiro de origem japonesa. Ao fazerem as oferendas, os crentes exercitam uma vida comunitária em que todos respeitam as convicções alheias e cultuam as suas divindades.

- Mas eu, ateu convicto, posso freqüentar esse espaço?


Beleza e misticismo

- Claro que sim! O local está aberto à visitação pública e todos são bem-vindos! Entretanto, chegar até lá é uma pequena aventura. Você passa por bairros inóspitos e carentes da Grande São Paulo até encontrar uma estrada de terra no Parque do Pedroso. Enfrente a lama, admire a natureza que o circunda e tenha um pouco de paciência. Aos poucos você se aproximará do espaço sagrado e ouvirá cânticos para Iemanjá, Ogum, Oxum, Xangô, entre outras divindades que tornam ainda mais místico este local de paz e de espiritualidade.

- O que você sabe sobre a Umbanda?

- A Umbanda surgiu no Brasil como resultado do sincretismo de religiões africanas que não podiam ser livremente praticadas pelos escravos nas senzalas, com o Catolicismo dos senhores-de-engenho, crenças indígenas, e os recém-chegados conceitos espíritas que, ao final do século 19, foram trazidos da Europa pelos filhos dos coronéis que lá estudavam. Baseia-se na prática da caridade, na igualdade entre os seus filhos e no cuidado que se deve ter para com os humildes, visando sempre ao bem e à evolução espiritual.


O galo, símbolo tradicional de poder e de caráter

- É por isto que se encontram imagens de santos católicos na Umbanda?

- Exatamente! Ogum, por exemplo, é São Jorge; Oxóssi, São Sebastião; Xangô, São João ou São Pedro; Iemanjá, Nossa Senhora dos Navegantes; Oxum, Nossa Senhora da Conceição; Iansã, Santa Bárbara; e assim por diante...

- E essa história de Caboclos, Pretos Velhos, Crianças...

- São entidades espirituais que, através dos médiuns, vêm auxiliar seus irmãos encarnados a compreenderem melhor a si mesmos e ao próximo, e a evoluírem por meio da prática da caridade.

- Quando foi criada a Umbanda?

- Impossível afirmar! Certamente, há mais de um século! Na verdade, não existe uma única Umbanda, mas várias! E não devem ser confundidas com o candomblé! Cada uma das linhas de Umbanda tem suas características próprias, suas crenças, seus conceitos. Algumas, por exemplo, são totalmente contra os sacrifícios de animais; outras o toleram, e outras, ainda, o exigem.


Obscuridade em busca da identidade

Santuário Nacional de Umbanda

- O que sempre me impressionou nessas oferendas e despachos – muitas vezes deixados em locais públicos como encruzilhadas, ruas, margens de rios ou de lagos – é o fato de ninguém recolher os mantimentos e objetos oferecidos, os quais terminam por poluir o visual e, literalmente, o meio ambiente.

- É por isso que o Santuário Nacional da Umbanda se predispôs a criar uma grande infra-estrutura onde todos se encontram, se manifestam e, ao mesmo tempo, deixam os pós e defumadores, os atabaques, as guias de miçangas e os objetos em porcelana dentro de um ambiente saudável, sem poluição. Assim, de forma respeitosa, as mensagens divinas se manifestam através de emoções humanas. O que mais chama a atenção é a organização do lugar, onde existem um viveiro de mudas destinadas ao reflorestamento da região e um minhocário, para o trato da terra, e onde se esclarece os visitantes e a comunidade para que cultuem os seus deuses e respeitem a natureza.


A fé está presente em todo templo de Umbanda

- Que fantástico! Quero ter a oportunidade de visitar este local de fé em breve. É necessário pagar para ter acesso ao Santuário?

- Sim, 5 reais por pessoa. O custo é bastante acessível, e a arrecadação é destinada à manutenção, segurança e conservação deste território de mata atlântica.

- Como diz o velho ditado: vivendo e aprendendo, buscando e encontrando...

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