Convivência das culturas portuguesa e africana |
- Sigo para o Hotel. Já são 11 horas da noite. Devo descarregar as fotos que registramos em nosso passeio pelo Bairro de Santo Antônio.
- Vá. Sempre gosto de lembrar que São Salvador da Baía de Todos os Santos surgiu, de fato, com a chegada do Governador Geral do Brasil, Thomé de Souza, quando ele, em março de 1549, pisou em terras americanas. Nascia, assim, esta fantástica cidade.
Os paralelepípedos acompanham fachadas seculares |
- Salvador cresceu. Viveu seu esplendor como capital do Brasil e acolheu – de maneira triste, porém contínua – escravos negros provenientes de países longínquos da Mãe África: Etiópia, Benin, Angola, Congo, Nigéria e Moçambique que, mesclados aos colonizadores, aos índios e aos imigrantes, firmaram assim o espírito da nação baiana.
- Nação Baiana?
- Sim senhor! A Bahia, em seu grito dilacerante, mescla o som distinto de suas vozes com as lágrimas derramadas pelo povo sofrido do interior; um povo dizimado pela fúria mercantilista de seus colonizadores, pela concentração urbana desordenada, pela população favelizada e faminta em solo soteropolitano, e, mesmo assim, apesar de tudo...
Testemunho do passado na Igreja do Santo Antônio | Aos poucos está sendo recuperado o casario do Santo Antônio |
As fachadas intrigam pela sua beleza |
- O baiano é gentil e alegre! Mas os comportamentos são distintos: a burguesia local é alheia, vira as costas para seus patrimônios, sejam eles históricos, naturais ou humanos, e é uma elite arrogante.
- E a classe média?
- Salvo raras exceções, pertence à grande massa alienada, vibra com seus representantes culturais frágeis, cantores medíocres, ginastas nos palcos que manipulam a grande massa com fórmulas musicais fáceis, sem conteúdo e num ritmo duvidoso.
- E os negros?
- Aí é interessante! Aos poucos surgem movimentos de consciência de sua força cultural e, gradativamente, buscam resgatar as suas raízes ao descobrir os laços com as suas origens do continente negro.
A força da Igreja na história de Salvador | Forte Santo Antônio Além do Carmo ou Forte da Capoeira |
- Onde vivem em Salvador?
Imponência arquitetônica provinda da Corte Portuguesa |
- Nas imensas e áridas periferias, em alguns bairros históricos e no agradabilíssimo Santo Antônio, local aprazível onde o casario, com suas fachadas majestosas, nos convida para um passeio por suas ruas tortuosas, adentrando os corredores longos, pés direitos amplos, que culminam em janelas que se debruçam para avistar o mar, a Baía de Todos os Santos e a Ilha de Itaparica. Um sonho!...
O badalar dos sinos em um País católico |
- Você ama Salvador, não é mesmo?
- Me delicio reparando nos detalhes de suas construções de outrora, portas seculares, adornos barrocos, paralelepípedos que testemunham o passar dos anos, crianças gentis e adultos amáveis que circulam por essas bandas em total harmonia com a paisagem urbana espetacular.
- E a Salvador moderna?
- É uma outra cidade. É um outro assunto e prefiro não comentá-lo agora. A modernidade aqui é sinônimo de descartável, feio, sem qualidade. Melhor deixar pra lá...
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