- Vamos parar para beber algo?
- Não sei, não! Barra do Piraí é mais uma das cidades fluminenses que foram descaracterizadas por forasteiros e por seus habitantes. Está muito feia!
A Fazenda Ponte Alta, o local de encontros políticos durante o governo Getúlio Vargas |
- Fique tranqüilo. Daqui a pouco estaremos na Fazenda Ponte Alta e, aí sim, de novo você vai entender o que foi o Brasil dos tempos áureos do Ciclo do Café, no Vale do Paraíba, durante o século 19.
- Sei disso. A natureza era bela, as edificações imponentes, as famílias abastadas e com educação européia... Mas... e os colonos, os escravos e os humildes serventes que viviam submissos aos seus senhores?
Fazenda Ponte Alta, rodeada de palmeiras imperiais da época do café. |
- É verdade! A história da Ponte Alta remonta aos tempos de audácia e de verdadeira aventura, quando o Barão de Mambucaba desbravou terras inexploradas, tornando-se um grande produtor de café, que era então escoado para o porto do Rio de Janeiro, capital imperial. Quase um século depois, após a derrocada do ouro negro, os descendentes do barão venderam a fazenda para o conde Modesto Leal cuja neta, Isabel, disponibilizou a propriedade para o então presidente da República, Getúlio Vargas, que precisava encontrar momentos de sossego e reflexão, e também manter contatos políticos importantes.
- E depois disso?
- Enquanto o País se consolidava como democracia, antes da ditadura militar, em 1960, a Ponte Alta foi vendida para Nellie Pascoli que, encantada com o patrimônio histórico da Fazenda, iniciou um trabalho de recuperação e de revitalização das edificações. A propriedade, então, passou a ser conhecida nacional e internacionalmente. Foi quando Evelyn, sua sobrinha, decidiu acolher visitantes e transformou o casarão em uma das pousadas mais elegantes e charmosas da região. Nossa saudosa amiga, que nos deixou prematuramente, era também uma das fundadoras do Instituto de Preservação e de Desenvolvimento do Vale do Paraíba...
A Pousada recebe visitantes de todo o Brasil e do exterior. |
- E agora, quem cuida da Fazenda?
- A família, seus irmãos e o valente e incansável Roberto Freitas. Eles têm conseguido animar a sede com eventos culturais, serenatas e saraus com atores que representam personagens de época. Recebem também estudantes que tomam um banho de história ao percorrer os aposentos da senzala e, muitas vezes, dormem por lá, permitindo assim que sua imaginação retrate em seus sonhos um pouco da memória regional.
- Que bonito! E o que você pretende fazer para ajudá-los?
- Ajudar? Por que haveria?
- Parece que a senzala está comprometida pelo ataque de um batalhão de cupins, que estão devorando a madeira da edificação. Infelizmente o edifício não está tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e então as empresas não se sensibilizam em recuperar o acervo, a menos que haja uma contrapartida financeira ou incentivos fiscais.
Peças do acervo do Museu do Escravo, na Senzala. |
- É um absurdo! Acho que poderíamos fotografar minuciosamente um por um, todos os itens a serem restaurados, montar o projeto e apresentá-lo às autoridades e às empresas que serão futuras parceiras nesse empreendimento. O Rio de Janeiro não pode perder o fausto, a singeleza, a beleza e o patrimônio cultural da Fazenda Ponte Alta. Vamos em frente?
- Vamos! Logo após o carnaval lá estaremos novamente. Temos um sonho a ser realizado: conseguir devolver aos fluminenses, aos brasileiros e aos visitantes estrangeiros, mais um pouco desse rico patrimônio arquitetônico, histórico e cultural.
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