Coluna | Fatos e Versões
Rodrigo Silva Fernandes
Advogado e articulista político do Jornal Gazeta de Varginha. Escreve todas as quartas e sextas.
A tragédia e a comédia; Piada pronta; Transporte gratuito? Não, pago por todos!; Rica e ofendida?; Vitória e ressaca
04/10/2024


A tragédia e a comédia

Chegamos ao final de mais um processo eleitoral em Varginha. Muitas análises de técnicos das mais diversas áreas, problemas apresentados e denunciados no horário eleitoral. Poucas propostas de impacto apresentadas, nenhuma delas fundamentada do como fazer ou pagar, sem aumentar impostos ou reduzir entregas. Promessas que não são de competência da Prefeitura de Varginha e outras tantas que são de competência de outros poderes ou instituições. A oportunidade dada pela eleição municipal, para que a sociedade e candidatos debatessem caminhos alternativos e soluções conjuntas se perdeu na tragédia da campanha eleitoral, com xingamentos, ofensas e ameaças veladas de apoiadores. Mas a tragédia está chegando ao final, logo ali no domingo, dia 06 de outubro de 2024 termina a eleição municipal mais xoxa, sem sal e sem gosto da história de Varginha! Depois disso vem a comédia! A piada de mal gosto de voltar ao (triste) normal, com transporte público deficitário, pouca capacitação profissional pública e perda de investimentos privados para outras cidades. Vamos continuar sem um planejamento de crescimento urbano, sem diversificação econômica e sem interlocução eficiente entre município, Estado e União! Talvez isso tudo possa mudar no novo governo? Será? Afinal, o que parece é que pouco vai mudar! A conferir

Piada pronta

Nas redes sociais voltamos a ver as (velhas) novas promessas de doar salário em caso de eleição na disputa que termina domingo, dia 06 de outubro. E estrelando no rol dos “comprometedores candidatos prometedores” aparece o ex-prefeito de Varginha e ex-deputado estadual Dilzon Melo, que disputa a Prefeitura de Boa Esperança. O então candidato promete doar todo salário de prefeito a instituição de caridade, caso seja eleito em Boa Esperança! Não vou atacar o “gesto nobre, que acontece apenas em campanhas eleitorais”. Mas vou destacar que diversas vezes vemos candidatos prometendo e depois não cumprindo a palavra, mesmo depois de assinado e ratificado publicamente em cartório! Além disso, fica o questionamento do porquê não doar o salário para a própria prefeitura ao invés de uma instituição de caridade?! O candidato quer “a glória caridosa e reconhecimento político público da entidade beneficiada”? Afinal, a instituição será escolhida pelo próprio político e não se sabe a lisura da escolha e mesmo a fiscalização no gasto da doação. Além disso, como o dinheiro do salário de prefeito está saindo do bolso da população, deveria retornar para o mesmo local. Ademais, sendo devolvido/doado para a prefeitura, teria que passar por toda a fiscalização, controle e processo licitatório para ser gasto, já numa instituição (da escolha do candidato) não teria estes controles necessários!

Transporte gratuito? Não, pago por todos!

No próximo domingo, 06/10, teremos eleições municipais e o transporte urbano coletivo não cobrará passagens dos cidadãos no ônibus! Isso não significa que será gratuito! Da mesma forma que o dito horário eleitoral “gratuito não é gratuito”! Na verdade, tanto o transporte coletivo como a comunicação por rádio e televisão, tratam-se de concessões públicas, por essa razão o governo define que o transporte não será cobrado do cidadão e que os partidos não pagarão pelo espaço de rádio e TV nas campanhas eleitorais, mas as empresas de ônibus e de comunicação vão receber de alguém, tenham certeza disso! Este alguém é a coletividade, pois não existe almoço grátis! Ou seja, a dita gratuidade no transporte coletivo dada pelo governo aos estudantes, idosos e nos dias de eleição, são computados pelas empresas no momento de ajustar o valor final da tarifa que será paga por todos os usuários do sistema municipal de transporte. Além disso, no caso do horário eleitoral (dito) gratuito onde os partidos políticos não pagam as emissoras. As rádios e TVs descontam o valor destas divulgações dos impostos devidos ao governo. Logo, todos nós cidadãos estamos pagando pelo dito horário eleitoral gratuito de rádio e TV. Os governantes não são claros e verdadeiros com a população no Brasil porque, se soubermos que somos nós que pagamos por tudo, inclusive a manutenção de todos os governos, poderes, seus altos salários e benesses, já teríamos tido uma revolução. Trocando em miúdos “os governos não te dão nada que já não tenham tomado de você antes”! Vale dizer que o transporte municipal coletivo no domingo das eleições não será cobrado do cidadão individualmente, mas da sociedade como um todo, apenas no horário de votação!

Rica e ofendida?

Parece piada, mas infelizmente não é! Uma candidata a vereadora de Varginha, filiada ao partido de esquerda, virou notícia duas vezes nesta eleição. Primeiro a candidata virou notícia por ter sido uma das que mais recebeu recursos do fundo partidário nesta eleição municipal, sendo destaque em sua legenda, trazendo indignação aos demais candidatos a vereador daquela federação da qual a candidata faz parte. Pouquíssimos candidatos receberam recursos substanciais dos partidos, sendo a candidata desconhecida uma das que mais recebeu recursos, sem nenhuma fundamentação técnico/política aparente. Passado o caso, surge agora no final das eleições um processo judicial entre a candidata e outro candidato a vereador. O processo de calúnia e difamação que envolveu os candidatos, teria origem em “briga de casal” que resultou em processo judicial público, pois não está em segredo de justiça e pode ser consultado por qualquer pessoa no portal da Justiça. O caso foi divulgado pelas redes sociais nesta semana e não deve afetar a campanha eleitoral da “endinheira candidata, sua votação catastrófica deve continuar como está, poucos votos e muito constrangimento alheio”.

Vitória e ressaca

Não perca tempo em discutir o resultado das eleições com parentes e amigos neste final de semana! Isso não valeu a pena durante a disputa e não vai valer agora, e neste final de semana os ânimos estarão à flor da pele! Os ganhadores vão fazer carreata, soltar fogos e a provocação vai estar em alta! Vão ter mensagens mal-educadas pelo WhatsApp, desabafos e desaforos antes sussurrados em comitês agora serão barrados pelas ruas. Já os perdedores, cheios de ira e rancor, não pensaram em “descer do salto”. Muita coisa em jogo! Política não é só cargo, não é só dinheiro, não é só poder. Mas é tudo isso e mais toneladas de vaidades que são somadas e misturadas por 45 dias e o resultado explode com os resultados da Justiça Eleitoral (que não acredito confiável, mas é o que temos!). Mas certamente, na segunda, as coisas já começam a voltar ao lugar. Muito gabinete em Belo Horizonte e Brasília ficarão silenciosos sem nenhum telefonema de felicitação pelo resultado em Varginha, quem sabe um ou outro telefonema de cobranças eleitorais, mas nada de felicitações. Na semana que vem, os deputados, senadores e governadores, já começam a fazer contas, “os eleitos de 2020, subtraídos os derrotados em 2024, quem poderá me apoiar em 2026?”. Passado o foco das eleições municipais vamos, a partir de segunda, focar nas eleições de 2026, que estão logo ali. E estão logo ali mesmo, podem perguntar ao prefeito Vérdi Melo, ele já está de olho nas urnas de 2026. Já os eleitos de domingo não tiveram ainda tempo de ver as eleições de 2026, mas logo terão! Estarão ocupados fazendo as contas finais da disputa de domingo e quanto ainda falta para pagar das eleições de 2024, de gastos a promessas eleitorais, tem muita coisa a pagar. Será que tem cargo suficiente para todos? No Executivo municipal a aposta é que muda pouco, mas quem perder o cargo vai ficar chateado, pode até “sair atirando”. Os poucos novos que forem entrar, não terão vida fácil, terão que entregar resultados rápidos, pois terá muita cobrança. Já no Legislativo, muita conversa e conchavo, será a receita dos 15 vereadores vencedores das urnas, alguns esperados, outra surpresa, mas todos cheios de si!

Vitória e Ressaca – 02

Quem ganhar para a Câmara de vereadores será procurado, no mesmo dia, por interlocutores do novo governo municipal. Na sequência, serão depois procurados por colegas do próprio Legislativo interessados na eleição da nova mesa diretora da Câmara. Esta eleição será sim bem mais emocionante que a eleição de prefeito, pois na disputa de novo presidente da Câmara a população tem alguma chance de ganhar, a depender do escolhido! Os líderes partidários do grupo vencedor serão acalentados pelo vencedor, mas não serão acalmados pelos eleitos. Afinal, muitos vão logo querer emplacar seus escolhidos nas vagas negociadas. Mas é certo que serão rapidamente “esfriados pelo possível negociador oficial e super secretário amado e odiado por muitos”. Não restam dúvidas que a ressaca eleitoral vai ser forte na campanha do candidato que tinha “sangue nos olhos e espinhos na língua”. Talvez tenham a sorte de não ficarem em último lugar, mas figuram em primeiro na conquista de desafetos e desapontados desta eleição. Quanto ao candidato, pego no laço aos 45 minutos do segundo tempo para disputar a prefeitura de Varginha, se ficar em terceiro lugar, era o esperado e cumpriu seu papel. Se tiver a sorte de ficar em segundo colocado, terá feito uma proeza! Pode até querer voltar às urnas em 2026 para ajudar na campanha do deputado federal petista que lhe deu a chance de disputar o Executivo nestas eleições, afinal, o deputado do PV que “roeu a corda no último minuto pode não ter mais a mesma aderência no eleitorado de esquerda da cidade”. O tempo dirá!

Arquivo e conferência

A coluna vai arquivar o plano de governo do candidato eleito neste domingo. Embora tenha sido uma peça fictícia, elaborada para cumprir uma obrigação junto à Justiça Eleitoral. O plano de governo é, até aqui, a única promessa que o então candidato eleito no domingo terá a obrigação de cumprir. Repleto de promessas discutíveis, os planos de governo dos três candidatos que disputaram a Prefeitura de Varginha podem ser um começo para a atuação dos 15 vereadores que serão eleitos no domingo. Aliás, a coluna vai depois apresentar os eleitos no Legislativo municipal. Além de tentar traçar o perfil de cada um dos eleitos, de acordo com as propostas apresentadas, sua origem política, histórico eleitoral e vida pregressa. É bem possível que a “lua de mel” entre os eleitos e a população seja longa. Afinal, muitas das obras deste governo serão inauguradas e entregues na próxima gestão. A perspectiva é de que o novo governo comece o ano com gordos recursos em caixa, o que dará conforto ao próximo prefeito e sua equipe. Já no Legislativo, discretamente a Câmara de Vereadores de Varginha vem crescendo a estrutura remuneratória e bajulatória dos edis. Tivemos um vergonhoso aumento de salários para os vereadores da próxima legislatura, além da sempre presente pressão dos vereadores para terem mais assessores contratados sem concurso público na Câmara. Aliás, esta será uma das promessas para quem quiser chegar ao comando da mesa diretora da Câmara. Afinal, 15 em cada 15 eleitos para o Legislativo municipal tem um amigo para indicar para cargo público de assessor.

A força do vice

Um detalhe pouco explorado nesta eleição foi a força e influência de cada vice na chapa de prefeito. Enquanto que o vice e Leonardo Ciacci, o ex-prefeito Antônio Silva, foi diversas vezes citado e atacado por adversários, justamente por ter agregado votos ao candidato a prefeito, os outros vices tiveram papel secundário nas campanhas. Na chapa liderada pelo PL, a vice Fernanda David estreou na política como candidata aguerrida, mas agressiva nas palavras, mostrou entusiasmo e participação na campanha, mas poucos votos trouxe a Zacarias Piva. Já na Federação Brasil dá Esperança, a vice Mirian Santana passou despercebida na chapa com Fabiano Almeida. A presença protocolar de Mirian na chapa serviu apenas para dizer que o PT estava presente nas eleições, além de fundamentar os R$ 500 mil doados pelo PT à dupla que disputou a Prefeitura de Varginha. Por certo que ambos os vices poderiam aparecer mais. Antônio Silva tem bagagem política e conteúdo para dizer. Mas talvez não quisesse ofuscar o candidato a prefeito, claramente menos preparado que o ex-prefeito. Já Fernanda David poderia fazer mais conexões para atrair o voto jovem para Piva. Boa parte da juventude e das mulheres está desmotivada a votar. Por ser a candidata com maior identificação com a juventude, Fernanda David poderia ter feito mais, contudo perdeu-se em ataques aos adversários que não serviram para virar votos. Mirian Santana tem uma história de vida política bem mais interessante que o candidato a prefeito Fabiano Almeida, mas nada foi mostrado de sua história. Membros do PT dizem que o fato de Mirian ter sido “pescada no laço aos 45 minutos do segundo tempo” pode ter influenciado no seu pouco desempenho. “Ela não queria ser candidata, fez isso para ajudar o partido”, disseram membros do PT. Como disse a coluna, 2024 entra para a história como a eleição mais xoxa que tivemos! Vamos ver se o resultado também não será insosso!

 

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