Coluna | Fatos e Versões
Rodrigo Silva Fernandes
Advogado e articulista político do Jornal Gazeta de Varginha. Escreve todas as quartas e sextas.
Pesquisas e reações; Análise dos Planos de Governo; Limite de gastos e a generosidade seletiva; Preposto legal; Roda gigante política
25/09/2024


Pesquisas e reações

A pesquisa contratada pela Rádio Itatiaia para a disputa pela Prefeitura de Varginha trouxe muitas manifestações, mas nenhuma surpresa para o mundo político. Primeiro é importante destacar que o universo de pessoas ouvidas é muito pequeno, tendo entrevistado menos de mil pessoas, o que trouxe uma margem de erro grande, cerca de 3,5%. Segundo ponto é que a pesquisa divulgada não levou em consideração os diferentes índices de aprovação ou reprovação dos candidatos nas dezenas de bairros da cidade, tendo sido ouvidas pessoas em poucas regiões da cidade. Mas dito isso, vamos aos fatos que todo o mercado político já sabe. Leonardo Ciacci está na liderança, embora seja atacado diariamente pela campanha dos concorrentes. No levantamento “menos pior para Ciacci”, o candidato do PSD tem o dobro dos votos do segundo colocado. Digo isso porque existem várias pesquisas realizadas na cidade, por diferentes grupos políticos, as quais a coluna teve acesso. A liderança de Ciacci não é surpresa, mas o possível empate técnico do segundo e terceiro lugar na pesquisa é algo surpreendente. Isso porque, a esta altura da campanha, esperava-se que o candidato do PL, Zacarias Piva, já teria adquirido o apoio da “bancada bolsonarista municipal, o que parece não ocorreu”. Pelo contrário, Piva parece que pouco evoluiu no cenário político. Embora esteja gastando num ritmo maior que os concorrentes. Já Fabiano Almeida (PV), com apoio dos deputados Cleiton Oliveira (PV) e Odair Cunha (PT) parece que vem conseguindo unir o pouco da esquerda raiz que existe na cidade. Razão pela qual o candidato do PV e do PL podem chegar empatados na véspera da campanha. Numa eleição em que a sorte parece que “caiu no colo de Ciacci, ficar em terceiro pode ser uma vergonha que o candidato do PL/PP poderia ter evitado se tivessem mais estratégia e menos arrogância”.

Bastidores

Nos bastidores políticos da campanha do PSD o “super secretário conta os dias para poder ressurgir forte, poderoso e rancoroso para vingar contra todos que o combateram e que foram adversários de Ciacci. No rol dos jurados estão vereadores da oposição, lideranças locais e até empresários que estão em cima do muro”. O diagnóstico político é que, se o “super secretário permanecer no Governo, pode mandar mais que o futuro vice e terá poderes e segredos no colete que podem fazê-lo ter caneta tão forte quanto a do próprio futuro prefeito”. Mas também a conspiração dentro do próprio governo para que o Super Secretário saia do governo junto com Verdi Melo em 31 de dezembro. Por essa teoria, o super secretário iria dedicar-se a liderar os bastidores da campanha de Verdi em 2026. Tem quem acredite nisso, e acredite em fadas também...

Análise dos Planos de Governo

A Coluna Fatos e Versões, juntamente com o Portal Varginha On-line, está acompanhando a grande repercussão das entrevistas com especialistas de várias áreas para analisar o plano de Governo dos três candidatos a prefeito de Varginha. O plano de governo dos candidatos foi apresentado oficialmente à Justiça Eleitoral e mostra-se, até aqui, visto que nenhum dos candidatos foram aos debates propostos até agora, como único documento público de compromissos dos candidatos neste momento. A primeira etapa das entrevistas já está no portal da Gazeta. O problema é que os três planos de governo são repletos de inconsistências devido a promessas que não são possíveis de realizar ou gastos que não apresentam origem de recursos para o investimento. Além de muitas outras promessas absurdas sem qualquer contexto administrativo e financeiro de serem realizadas. A Coluna Fatos e Versões e o Portal Varginha On-line vão realizar nesta quarta-feira a segunda rodada de entrevistas com o tema Saúde e Funcionalismo Público. Vamos entrevistar um médico, empresário e gestor hospitalar que conhece bem a realidade da saúde municipal. Bem como, também vamos falar com um servidor público municipal, concursado, e líder sindical na representação do funcionalismo. A segunda parte das entrevistas será divulgada na próxima sexta, no Portal da Gazeta de Varginha, juntamente com a Coluna Fatos e Versões e no Portal Varginha On-line.

Meio Ambiente: Candidatos não apresentam soluções dos principais problemas

Os planos de governo dos três candidatos a prefeito de Varginha não apresentam soluções concretas para problemas do meio ambiente como a necessidade de um novo aterro sanitário ou mesmo os muitos aguapés que proliferam no lago da PCH Boa Vista, o que evidencia o descarte ilegal de esgoto no lago. Quanto à necessidade de um novo aterro sanitário, os candidatos nem tocaram no assunto nas poucas entrevistas que têm concedido. Varginha possui um aterro sanitário gerido pela Copasa, que possui pequena vida útil e a cidade precisa debater sobre a criação de soluções conjuntas como a criação de um aterro em consórcio com outros municípios, visto que não existe espaço no território de Varginha para abrigar nova estrutura de resíduos sólidos. Além disso, a Coleta Seletiva atualmente existente na cidade é muito acanhada e sem planejamento, visto que não atende todas as regiões. Quanto aos aguapés do lago formado pela Usina PCH Boa Vista, não é de hoje que ambientalistas vem denunciando o descarte ilegal de esgoto no lago. Segundo os ambientalistas, a principal suspeita seria a Copasa, que possui estação de tratamento nas proximidades do lago. Contudo, tendo em vista que a estatal não tem dialogado com os denunciantes e também não vem cumprindo seu cronograma de investimentos na cidade, não sabemos se realmente é a Copasa a responsável pela poluição das águas do lago da PCH Boa Vista, que fica no Rio Verde. Fato é que a enorme proliferação dos aguapés, que vem cobrindo todo o lago é uma comprovação de que a água está repleta de material orgânico, que alimenta os aguapés. A poluição está longe da vista dos fiscalizadores como Codema ou Ministério Público e mais longe ainda da vista dos candidatos a prefeito de Varginha, infelizmente!

Pra inglês ver e varginhense pagar

As eleições municipais estão mexendo com o funcionamento dos poderes pela cidade. O Judiciário, mastodôntico e lento nas ações, mas caro e pesado para o contribuinte sustentar, finge que fiscaliza as muitas ações constrangedoras dos candidatos na caça ao voto. Juntamente com o Ministério Público, o Judiciário espera que “caia no seu colo o candidato corruptor com a mala de dinheiro, acusação e provas formais para apenas mandar prender”. Se não for assim, não vemos ações concretas de fiscalização do Judiciário ou MP. Já o Executivo municipal, move-se exclusivamente por ímpeto eleitoral. Liberação geral para obras, tudo pode, tudo gasta, mas nada se fiscaliza, não de observa eficiência ou prazos. A ordem é agradar o cidadão e o servidor a qualquer custo, e podem acreditar que está sendo muito caro e nada sustentável ou eficiente. E parece que assim vai continuar, até o final das eleições! Depois volta ao normal que todos sabem como é! Já no Legislativo, este virou piada! Reuniões da Câmara de Vereadores que já são rápidas e para discutir banalidades, agora no período eleitoral, estão durando menos de meia hora, quando muito! E ainda assim, tais reuniões onde se mobilizam dezenas de servidores, gastos com energia, papelada e toda burocracia servem apenas para bajulações, batismos de ruas e avenidas. A maioria das reuniões deste período poderiam ser até remotas, caso a eficiência dos gastos públicos fossem prioridade para o Legislativo, mas parece que não é! Trocando em miúdos, os gastos altos são reais, o trabalho é fictício, para inglês ver, mas os custos, ah os custos! Estes sim, são bem reais e todos chegam mensalmente para o varginhense pagar!

Limite de gastos e a generosidade seletiva

Os três candidatos a prefeito de Varginha apresentaram o limite máximo de gastos para a campanha deste ano. Sem falar nos muitos candidatos a vereadores que também devem gastar o limite máximo permitido. Na verdade, estes limites definidos pela Justiça Eleitoral, levando em conta o volume de eleitores de cada município, representam quanto do nosso dinheiro público os candidatos vão poder gastar! Sim, o dinheiro do Fundo Eleitoral que sustenta majoritariamente as campanhas eleitorais sai dos nossos impostos direto para os partidos políticos. E isso explica por que os três candidatos a prefeito estão no limite do teto de gastos. E também explica por que alguns dos candidatos a vereador estão recebendo gordas contribuições para campanha dos partidos e outros nada recebem. Isso ilustra a “farra do boi e falta de transparência na distribuição dos recursos públicos para eleição”. Já que não conseguimos barrar tal absurdo financeiro, vale a pena que o eleitor fique atento, também, quanto aos valores que alguns candidatos estão recebendo de doações de pessoas físicas. Isso serve, também, para ilustrar quem serão os “credores do referido candidato, caso seja eleito”. Vale dizer que alguns nomes conhecidos da política municipal estão recebendo dezenas de doações de empresários conhecidos na cidade e fora dela. A soma total destas doações representa valores significativos. Vemos doações individuais de R$ 20 mil! Isso que é generosidade! Fico imaginando o porquê de a generosidade seletiva ocorrer apenas para ajudar quem entra no Poder, mas não abrange o apoio a hospitais, asilos e escolas!

Preposto legal

A campanha do candidato a prefeito Fabiano Almeida (PV) cumpre bem a missão de representar o Partido dos Trabalhadores, com “nova roupagem política, para tentar melhorar a imagem da esquerda na cidade”. Com pinta de moderno e semblante jovem, Fabiano Almeida traz ideias velhas como o subsídio público para áreas como o transporte coletivo, por exemplo! Seu plano de governo trata Varginha como se o município tivesse com um orçamento infindável e que o dinheiro brotasse da terra, sem a necessidade de sangrar o bolso do trabalhador! Quando se depara com a primeira prestação de contas do candidato, onde mais da metade de seu gasto vem de doação do Partido dos Trabalhadores – PT, fica claro que o “padre pode ser novo na paróquia, mas o sermão e o rito doutrinador, são os mesmos dos antigos cardeais que mandam atualmente na República e já mandaram também em Minas e em Varginha, com resultados desastrosos nas gestões públicas onde passam”.     

Jogando para cima

Os três candidatos a prefeitos de Varginha já arrecadaram cerca de R$ 2 milhões de reais para gastar na campanha. Fora a grana gorda que os candidatos a vereador também estão recebendo. Vale dizer que a eleição é um “acontecimento econômico” no comércio local pois movimenta a economia local pulverizando muitos pequenos gastos na cidade. Sem falar que muitos dos gastos são curiosos, pois o que temos de servidores públicos municipais doando recursos para o mesmo candidato é mesmo de chocar! Certamente que este “pinga-pinga de doações vai garantir o mesmo protecionismo que vem fazendo mal ao serviço público, na medida em que não pune os maus servidores e estimula benesses e gastos extras ao funcionalismo público que pesa cada dia mais nas costas da sociedade, sem entregar a eficiência que vemos no setor em outros países”.

Roda gigante política

Nomes desconhecidos e fracos ontem, podem tornar-se famosos e fortes amanhã. Da mesma forma que poderosos conhecidos podem perder a vez de sair de cena. A expectativa futura da política de Varginha é de muita mudança nos próximos anos, não apenas pela chegada de novos integrantes do mundo político local, mas também pela perda de força e até pela visibilidade de algumas lideranças. O deputado federal Diego Andrade (PSD) que tinha sumido de Varginha deve ser a bola da vez nos próximos dois anos. O parlamentar que possui influência em Três Pontas deve voltar a frequentar Varginha com mais intensidade com a possível chegada do PSD ao comando do Executivo. O mesmo deve ocorrer com a deputada federal Greice Elias, do Avante. A parlamentar é apoiadora do vereador Dudu Ottoni, que deve ganhar força na próxima gestão, tendo grande chance de ocupar a presidência da Câmara em 2025. Já os parlamentares Dimas Fabiano (PP) e Cleiton Oliveira (PV) tendem a perder espaço político na cidade. O PP de Dimas Fabiano vai fazer de vereador nestas eleições, mas não devem ocupar o mesmo espaço legislativo atual, muito em razão do fortalecimento político do Executivo que será eleito em outubro e deve cooptar apoio na Câmara logo no primeiro momento. Dimas Fabiano vai perder apoio, mas vai continuar atuando em Varginha com seletividade. O mesmo deve ocorrer com o deputado Cleiton Oliveira (PV), mas este tende a perder ainda mais apoio político em Varginha pois ficou mais desgastado no processo eleitoral de 2024 e não possui o mesmo suporte econômico e político de Dimas Fabiano. Cleiton tem grande chance de reeleição em 2026, mas com bem menos votos de Varginha.

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