Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Jovens motociclistas e a medida das coisas
05/06/2024


A popularidade das motocicletas no Brasil não é um fato novo. Há décadas as motos estão cada vez mais presentes em todos os cantos do país. De 2013 a 2022, o número de motos em Varginha saltou de 13.399 para 18.486, um aumento de 27,52%. Com uma população de 136.467 pessoas, significa dizer que para cada sete habitantes temos uma motocicleta. Entre as quatro maiores cidades sul-mineiras, nossa frota só é menor que a de Passos que, de acordo com o Detran (2022), possui 22.627. 

As motos em países como o Brasil desempenham funções muito significativas em termos de mobilidade urbana, especialmente na circulação de mercadorias. Portanto, as motocicletas não ocupam espaço apenas no lazer e diversão de motociclistas, mas este segundo aspecto também ajuda a explicar a grande demanda e, consequentemente, oferta de motocicletas, sobretudo, entre os mais jovens.

Existem muitos aspectos a serem discutidos em relação ao 2024 sangrento no trânsito varginhense, mas concentro essas breves notas na relação jovens e motocicletas. Se dispor ao risco, sentir o perigo fazendo manobras arriscadas não quer dizer que os jovens querem sofrer lesões graves ou mesmo morrer em acidentes fatais. Correr riscos por diversão não está relacionado apenas a hobbies radicais como o paraquedismo ou o rapel, nem apenas ao álcool e outras drogas. Todos nós fazemos algo arriscado em menor ou maior escala em nossas vidas cotidianas. A inclinação ao risco faz dos jovens o grupo mais vulnerável a mortes causadas por acidentes envolvendo motos no Brasil. Sem nenhuma surpresa, moto é o veículo que mais mata no trânsito e o que mais gera indenizações no país. O quadro geral desse típico grupo de risco é bem claro: homens jovens tentando aceitação entre seus pares, dispostos a desafiar os riscos, buscando feitos que gerem alguma repercussão. 

O gênero e a cultura relacionada ao gênero se constituem um grande gatilho para acidentes de trânsito. Superestimar as próprias habilidades e afetar intencionalmente a própria percepção são os principais fatores causadores de acidentes. A visibilidade do motociclista, bem como a interpretação clara da velocidade e direção da motocicleta são muito importantes para uma pilotagem defensiva. Mas muitos jovens ignoram a pilotagem defensiva.

Na narrativa con¬tem¬po¬râ¬nea do Brasil, o grande ritual da matu¬ri¬dade não é casar-se ou entrar no mercado de trabalho, não é ter um filho, comprar uma casa ou matar um leão: é girar a mão no acelerador de uma motocicleta, a sua motocicleta. 

Evidente que não trago respostas, mas o problema está aí, e agora? 

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