Do terraço do hotel do sétimo andar do deselegante Edifício Arthemis, obra horrenda do arquiteto Oscar Niemeyer no Território Soteropolitano, avisto a belíssima paisagem da Baía de Todos os Santos. Aliás, trata-se de uma baia na Bahia.
A luz que entrecortava o horizonte, através de nuvens espessas de um cinza-claro, trazia um efeito mágico que eleva o viajante à reflexão sobre as maravilhas do Planeta.
O mar estava calmo e o azul de suas águas abrigava navios e cargueiros pontuados entre o continente e a histórica Ilha de Itaparica.
A brisa constante denunciava o inverno baiano. Chuvas esparsas, o firmamento povoado nos céus com nuvens mirabolantes, através de formas e desenhos insinuantes sob a silhueta de igrejas seculares, testemunhos de uma época áurea de quando Salvador era a Capital do Brasil, de 1549 a 1763.
Os "meninos de rua" do Centro Histórico Pelourinho continuavam soltos e gentis, embora insistentes na mendicância contínua que garantia a sua sobrevivência.
Carregava em mim o sonho de levar adiante o projeto "Guardiães do Pelourinho" que previa o abraço fraterno, o leito cômodo e uma nova vida a estes pequenos excluídos da sociedade brasileira.
No mesmo dia, segui para o bairro do Rio Vermelho e estivemos na residência do renomado escritor Jorge Amado, que ali passou parte de sua vida e ai criou personagens que ocupavam o seu cérebro e transitaram em versões de suas obras literárias; com versões para vários idiomas e assim invadiram lares brasileiros e de estrangeiros quando foram eternizadas as exuberâncias de Dona Flor e seus Dois Maridos e de Tieta do Agreste, as quais levavam a todos o sonho promíscuo e sensual da bigamia.
Ainda no terraço de onde avistava ao longe o Forte de Nossa Senhora de Monte Serrat fazendo fundo às torres da Igreja Nosso Senhor do Bonfim, busquei imaginar outras andanças que me permitiram desvendar a Serra da Mantiqueira, sentir os odores de lavandas em montanhas do Principado de Andorra ou ainda lembrando-me dos momentos de êxtase ao vislumbrar as pequenas casas da espanhola Ibiza.
Rapidamente desapareceu de meu cérebro essas visões pois surgia em meu pensamento a mensagem "Sorria, você está na Bahia".
Tudo isso ocorreu há cerca de 15 anos...