Rio de Janeiro em 17 de setembro de 2001."Amarelinho" é o nome de um bar , onde encontrava-me às 17 horas , situado no centro histórico do Rio de Janeiro. À sua esquerda, o Teatro Municipal; ao lado do teatro, o Museu de Belas Artes. Atravessa-se a rua e adentramos a espetacular Biblioteca Nacional, fundada em 1810 quando da permanência de D. João VI no Brasil.
Após visitar a igreja recém-restaurada do Convento de São Francisco, construída de entre 1657 e 1733, senti-me inspirado em por as ideias em ordem. Vida nova! No dia 11 de setembro de 2001 havíamos firmado o acordo definitivo de conclusão da associação entre a editora Empresa das Artes e a "Livrarias Nobel". As torres do World Trade Center ruíram exatamente nesse dia.
O sentimento de vazio e a sensação de pavor que assolou a todos os habitantes do Mundo destruíram qualquer sensação de felicidade, de alívio ou de vitória que pudesse ter tido naquele importante momento. Minha vida, minhas questões e meus anseios tornaram-se totalmente insignificantes face ao incompreensível: o ódio explícito por parte dos habitantes do planeta contra os norte-americanos dos Estados Unidos da América.
"Afeganistão recebe ultimato para entregar Bin Laden, o símbolo do demônio, da destruição; aparente causador do início de uma terceira guerra mundial", li em um dos periódicos locais.
Na véspera, ao chegar ao Rio de Janeiro em um voo vazio da TransBrasil (empresa falida e altamente endividada), pude assistir pela televisão os momentos de horror vividos naquele momento em Nova Iorque.
A mídia ostensiva da Rede Globo de Televisão, a mais potente emissora do país, transmitia incessantemente imagens do ataque terrorista, de forma sensacionalista, procurando assim monopolizar a audiência dos telespectadores.
O fato de ter encontrado novos sócios, de haver um novo desafio profissional em minha vida, de obter a oportunidade de recomeçar novamente tornava-me esperançoso naquele tenebroso momento...
O amor pela vida, o deslumbre por edificações que ostentam a glória do período imperial português no Brasil, estimulou-me a registrar os momentos vividos neste início de século, de milênio e de uma nova ordem. Estava no primeiro ano do Século XXI.
As cenas do cotidiano se delineavam repletas de códigos de uma era que convive com todos os extremos; da vasta riqueza à ampla pobreza, da sofisticação tecnológica à vida de favelado, das gastanças aburguesadas em estabelecimentos comerciais de luxo aos totalmente excluídos do benesses do mundo contemporâneo.
Hospedado no belíssimo Hotel Glória, encontrei um amigo que levou -me a jantar na casa da esposa de um dos poderosos proprietários de uma grande rede de comunicação brasileira.
Um batalhão de seguranças, devidamente uniformizados e taciturnos, nos aguardava em frente a um palacete encravado nos altos de um morro carioca. A decoração dos ambientes da pretensamente luxuosa residência era fria, beirando o mau gosto dos "noveaux riches".
A sala de jantar assemelhava-se a uma exposição de móveis de um centro comercial. Tudo era impessoal. Passava-se de uma sala à outra e chegava-se ao "anexo" onde, no mezanino, havia dois quadros com cores vibrantes, parecendo sair diretamente das páginas de uma revista de decoração.
Ao dialogar sobre o mundo editorial, sem querer, tornei-me a atração da "soirée". Mudar de situação, de ambiente social e de universo era o desafio à busca de uma conduta que permitisse cristalizar e enraizar esta nova parceria profissional que estava por surgir entre duas editoras com perfis distintos ...
Tudo isso ocorreu há 19 anos atrás e outras situações se apresentaram no decorrer dos tempos; outros desafios, novas parcerias e a busca do consolidar-me nas áreas cultural e editorial.
Não se fecha um ciclo quando abrem-se novos horizontes! Desta forma ,entramos na terceira década do terceiro milênio. Encontro-me no dia 24 de setembro de 2020. Mãos à obra...