“Buscar a felicidade fora de nós mesmos é como tentar agarrar uma nuvem”.
Yogananda
Ser feliz, eis uma questão que muitas vezes suscita mais debates filosóficos do que algo prático. Alguns questionam se existe felicidade, outros querem saber o que é felicidade e, ainda, há uma grande maioria que quer mesmo é saber a sua receita ou onde encontrá-la. Melhor ainda se isso não lhes exigir nenhum esforço.
Eu da minha parte acho tudo isso debalde, inútil mesmo. Porque entendo que a felicidade não é algo pronto e acabado, é para ser conquistado a todo tempo. E está contida nos diversos estados de bem-estar que vivenciamos ao longo da nossa existência. Deste modo, podemos afiançar que a felicidade está presente em cada bom, pacífico e prazeroso momento da vida; é um “estado de espírito”.
Partindo deste enfoque, a questão que se apresenta não é se a felicidade existe ou não existe, mas, se estamos sabendo identificar nossos estados ou momentos de felicidade, se estamos valorizando-os adequadamente. Em síntese, este é o desafio a ser vencido por aquele que deseja ser feliz.
Por que desafio? Por que para a maioria das pessoas parece ser mais fácil falar de infelicidade, infortúnios e frustrações. Por que é mais simples apegar-se ao negativo, do que confrontar o modelo existencial viciado que superestima as más ocorrências e alimenta assim o vitimismo e o sentimento de autopiedade.
Posto que seja natural em todos nós o desejo de ser feliz, a melhor direção para esta busca está em aperfeiçoar o nosso entendimento para definir com maior clareza o que verdadeiramente nos faz ou fará felizes; quais os requisitos e as ações que irão resultar em prodigiosos estados de bem-estar. Ao agir assim, por certo estaremos agregando maior qualidade ao uso do nosso tempo. Estaremos deixando de perdê-lo no encalço de ilusões ou prazeres efêmeros que, além de não nos preencher a existência, faz com que percamos a fé em nós mesmos.
Acredite: Ser feliz depende de multiplicarmos nossos momentos venturosos de paz interior. E esta ação está ligada profundamente à qualidade do que sentimos e vivenciamos, porquanto, a felicidade se alimenta de tudo quanto positivo nos nutre o espírito, a mente e o corpo. Daí a certeza de que, mesmo em porções, a felicidade existe e está ao alcance daquele que conscientemente faz o melhor por si mesmo e, por extensão, aos seus semelhantes.
Pense rico
Quando num texto fiz referência ao hábito de “pensar pobre”, alguns leitores mais atentos indagaram-me a respeito da citada expressão. A seguir compartilho a reflexão sobre o tema.
Não é preciso uma análise muito profunda sobre a nossa cultura educacional para constatar o quão empobrecedor ela é. Levando-se em consideração que na atualidade a maioria das pessoas vive como autômatos dirigidos, principalmente, pela visão televisiva da realidade ou pela internet, que mais difundem estereótipos comportamentais vazios do que valores afirmativos, humanitários e éticos, não há como passar despercebida a miséria existencial em que nos encontramos.
Só não vê quem é cego, não ouve ou é hipócrita. Tantos são os que vagueiam por aí movidos por manipulações e engodos em todos os níveis: religiões que antes prometiam o céu na eternidade hoje o oferecem aqui e agora nos mais variados cardápios; escolas subvertem a boa pedagogia eliminando o ensino de valores e a prática do pensar; faculdades alardeiam a jovens incautos qualidades discutíveis oferecendo-lhes preparação para um mercado incerto e em crise; a doença é uma mercadoria rentável; a música que antes nos embalava hoje é só um lixo que fere ouvido e a mente das pessoas ainda sãs.
Então, neste contexto, pensar pobre significa: seguir a manada sem refletir, sem racionalizar ou ser seletivo diante de tantas informações inúteis que só fazem poluir a mente e a alma; viver com medo de romper os grilhões do comodismo e da incapacidade de bem pensar, oriundos de um modelo existencial que pereniza a subserviência; apegar-se a fracassos e perdas acomodando-se no papel de vítima ou coitado; estacionar na ignorância, no egoísmo e no orgulho, elementos impeditivos de crescimento.
Significa, ainda, não confiar em si mesmo como protagonista principal da sua própria história; crer-se pequeno diante dos obstáculos e amparar-se em desculpismos para não assumir responsabilidade com a própria existência; desprezar valores e princípios para se apoiar em preconceitos, regras artificiais ou transgressões da licitude e da justiça; desconhecer o campo das potencialidades inerentes ao ser humano, de promover mudanças em seu modo de ver o mundo e de superar desafios rumo à evolução consciente e respeitosa para consigo mesmo, com o ambiente onde vive e seus semelhantes.
Enfim, pensar ou agir pobre é fugir à responsabilidade espiritual que todos temos para com a vida em todas as suas dimensões e espaço. No mais, a referência a “pensar pobre” tem sua razão de ser em virtude de que tudo o que o ser humano realiza inevitavelmente passa pelo seu pensar consciente ou inconsciente, racional ou instintivo. E para enriquecer seu pensamento e suas ações, necessita ele buscar o conhecimento, processá-lo e assenhorar-se dele através da constância da
sua prática benfazeja e construtiva.