Alexander Lowen, psicanalista, em seu livro Medo da Vida, indaga: “Se a vida se resume em ser, porque temos medo disso? Por que é tão difícil nos entregarmos a sermos?” A depender da ótica que se dê a essa questão, creio que será possível encontrarmos inúmeras respostas, mas, neste momento, prefiro ater-me apenas a uma delas. A de que na medida em que vamos vivendo, vamos abandonando nossa originalidade. Vamos deixando para trás o nosso estado de criança onde prevalecia a autenticidade e um modo de perceber a vida em sua essência de liberdade. E com o passar do tempo, vamo-nos deixando enredar por condicionamentos que nos aprisionam e fazem aflorar nosso medo de ser.
Por diversos motivos, creio que o tornar-se adulto seja o deflagrador dos nossos medos, uma vez que nessa trajetória, através de um processo educativo rico em temores, vão sendo repassados elementos que contaminam o nosso modo natural de ser. E dessa ruptura entre o que essencialmente somos para o que devemos ser, é que começamos a assumir posturas impróprias que dificultam cada vez mais a melhor compreensão da nossa existência. É a partir daí que, de certo modo, passamos a ter medo da vida e de tudo quanto a envolve. É como se começássemos a respirar menos e aproximarmo-nos da morte, um temor que, por si só, causa-nos desconfortos emocionais e físicos consideráveis.
O medo de morrer e o medo de viver são faces de uma mesma moeda, pois se amparam no medo de ser. Tanto isso é verdade que, por incrível que pareça, muitas pessoas temem igualmente tanto o sucesso como o fracasso, tanto amar como serem amadas. E, por não se permitirem serem essencialmente autênticas, criam um universo de incertezas e inseguranças, onde viver torna-se algo tão assustador que, contraditoriamente, as leva, mesmo que gradativamente, rumo à morte que tanto temem.
A todo o momento temos que escolher entre o ser ou não ser. Entre enfrentar a vida com coragem e vivenciá-la sem abdicar da qualidade essencial de sermos autênticos e naturais, ou negar a nós mesmos – nossos sentimentos e emoções -; permitindo que nossa existência fuja ao nosso domínio e nos tornemos prisioneiros do medo.
Deste modo, não nos resta melhor alternativa que a de revitalizarmos a consciência de quem realmente somos, permitindo fluir com toda a intensidade um novo modo profundo de ver, sentir e viver a vida em toda sua integralidade; em toda sua divina plenitude, por assim dizer. Se o que desejamos é a sensação prazerosa de viver, então o melhor é enamorar-se da vida e nutri-la todos os dias, permitindo-nos simplesmente ser.