A astúcia do presidente da república em fabricar polarizações acerca de decisões importantes para o país já não surpreende ninguém. O caos é a sua zona de conforto e espalhar armadilhas para anuviar suas reais responsabilidades é o seu modo de fazer política. Ao assumir a presidência, Bolsonaro fez um consórcio cujo o prêmio é a imposição de sua própria ditadura. Sua conduta é um esforço para estabelecer sua milicia acima de qualquer força da democracia.
Na contramão da Organização Mundial de Saúde e dos maiores países do mundo, o presidente brasileiro insiste em minimizar a pandemia e criticar medidas de isolamento social, desinformando e tensionando ainda mais o já desgastado debate político no Brasil. Afinal, vale a pena correr o risco, todo mundo morre mesmo. Neste momento, por trás do discurso do messias profano, tem uma crueldade sedutora, pois quando ele tira de si a responsabilidade de conduzir o país no enfrentamento da crise e diz ao trabalhador comum, “olha aí, por conta dos idosos, não querem te deixar trabalhar”, ele está colocando em perspectiva vidas que culturalmente o país não respeita, especialmente se forem pobres. Assim, o messias se aproxima do sujeito comum, pois não é só a classe média que mantem a sua base de sustentação, e ao jogar o povo contra as instituições do Estado, ele se coloca acima deste, pois o Estado é burocrático, o Estado é longe, o Estado é omisso, o Estado te atrapalha, mas eu te ajudo. Bem parecido com o que fazem os milicianos no Rio de Janeiro (mera coincidência).
Idosos, aposentados, são vidas mais baratas. Pobres, favelados, são vidas mais baratas. Se morrerem alguns milhares, demérito deles. Não tinham histórico de atletas.
Com os pronunciamentos do presidente, uma parcela considerável da população pede a revogação das medidas restritivas. Afinal, solidariedade para a classe média brasileira é fazer caridade no natal.
Bolsonaro vive em uma eterna campanha política, sendo assim, sabe que, se ao final de seu governo, a economia não estiver bem, suas chances de reeleição são mínimas. O mundo num cenário de recessão, onde todas as economias vão quebrar, para o presidente é uma conta salgada, que milhares de vidas não valem o preço. Se engana quem pensa que ele quer salvar o país, ele não tem grandeza para pensar no Brasil, antes de pensar no seu próprio umbigo. Quer se salvar a custa do povo pobre que morre sem manchete, sem ter repercussão. Que o povo se sacrifique em favor do messias.
Para aqueles que defendem esse Brasil kamikaze, lembrem-se, o capitalismo, que produz os donos das grandes fortunas do mundo, é mestre em acumular riquezas, mas na hora do prejuízo quer socializar.