Estamos nos aproximando de mais um final de ano. Qual não foi a minha surpresa, no dia 24 de dezembro à noite, quando nos solicitaram que ficássemos todos atentos para o que uma criança de três anos desejava falar, dizer ou contar, aos adultos ali reunidos.
Todos ficaram surpresos e atentos e então, em frente ao presépio, a pequena criança começou a discursar sobre como Maria e José tiveram dificuldades em encontrar uma pousada ou uma taverna onde hospedar-se, pois ela estava grávida. Então, a garotinha fez um teatrinho, bateu à primeira porta, à segunda e, finalmente, por não terem mais para onde ir, seguiram para um estábulo.
A menininha citou Izabel, Maria, José e, enfim, tentou situar o acontecimento de forma dramática e bastante triste para a sua cabecinha, vendo que uma mãe quase ao ponto de dar à luz, e um futuro pai triste e solitário, não sabiam como encontrar um local para que a senhora pudesse conceber o nascimento de seu filho.
Em seguida, afirmou que havia uma estrela cadente no céu, uma espécie de luz, e que naquele momento nasceria o filho de Deus. E foi tão interessante que todos ficaram surpresos, não esperavam que essa fosse a encenação teatral de uma criança de três anos em um edifício luxuoso da cidade de São Paulo, em um apartamento triplex, de onde se percebia uma belíssima vista para toda a metrópole, hoje em dia superpovoada com cerca de oito, dez, doze milhões de habitantes, ninguém sabe... e enfim, que essa menina nascida em berço de ouro estivesse pensando na pobreza, na beleza e na tristeza do nascimento de um bebê em um estábulo e que essa criança seria, para ela, o seu mito Jesus Cristo.
Obviamente que eu, como agnóstico, mas sempre respeitando o bem-estar e sobretudo o olhar alheio para com a vida, para com a convivência familiar, para com a crença, para com a religião, para com tudo... fiquei admirado com a presença de espírito dessa criança.
Este então foi o dia 24 de Dezembro e após bom champanhe, bons vinhos e saborosa comida, retornei à minha casa para descansar.
No dia seguinte, 25 de Dezembro, resolvi sair andando pela Capital Paulista. Fui inicialmente à Praça 14 Bis (onde tomaria o ônibus) a qual estava imunda; pessoas deitadas no chão, cachorros soltos e presos, em um descaso total para com a urbe. Tomei o coletivo, vazio, e fui para o Centro da Cidade.
O que vi? Muita sujeira, muito lixo e sobretudo os "pés" dos postes totalmente deteriorados, com pedaços arrancados porque é metal e este metal serve para a compra de drogas pesadas, do crack sobretudo.
Fotografei e continuei andando, tentando ver beleza em algum lugar. Os estabelecimentos, bares e supermercados estavam praticamente todos fechados; mas ao mesmo tempo consegui enxergar, já que a cidade estava vazia, muitos pontos interessantes de manifestação popular na pintura e também levando em consideração edificações que ficaram na história de São Paulo e sobrevivem, não sei como, frente à fúria destruidora dos habitantes da Capital.
Veio-me à cabeça a importância do dia 25 de Dezembro. Voltou-me ao cérebro a lembrança de várias vezes, de vários dias 24 de Dezembro, véspera do natal, em harmonia com a minha família. Mas foram raros aqueles momentos em que estivesse só, solitário, em uma cidade imensa como São Paulo, tentando entender como é possível viver numa metrópole tão desconexa, tão destruída, tão aviltada e tão violentada...
Continuei caminhando. Fui ao Vale do Anhangabaú; avistei as belíssimas palmeiras imperiais, testemunho da história de São Paulo. Vi a Igreja Santa Efigênia, pude apreciar as suas feições arquitetônicas, entrei e ouvi o pedacinho de uma missa onde as pessoas estavam serenas, tranquilas e a música era um bálsamo para todas as almas ali presentes.
Continuei caminhando. Fui pela Avenida São João e percebi muito lixo por todas as partes. Pessoas que passavam olhando para baixo, aparentemente tristes, em uma data que seria um dia de festa, um dia de comemoração de 2019, o dia de nascimento de Jesus Cristo.
Resolvi ler os jornais e apreciar as notícias. As notícias estavam positivas, buscavam estimular o brasileiro por um governo que aparentemente estaria buscando o seu caminho, já menos pecador que o anteriores (sobretudo os três últimos), os quais tiveram a coragem de aviltar a Nação com um sentimento indevido, maldoso do apoderar-se do erário público para fazer o que bem queriam, em causa de uma leitura político-partidária do que acham, julgam correto e que não é a percepção da maioria da humanidade nos dias de hoje.
Enfim, vamos torcer por um bom Brasil. Mas não esqueçamos que o dia 25 de Dezembro é um dia importante, não para que se venda muito, que se venda dez ou quinze por cento a mais, mas um dia que marca o nascimento de um ser humano que carrega o estigma e a lenda de ser o filho de Deus.