Após um voo tranquilo e sem sobressaltos encontro-me, novamente, no Aeroporto Internacional da Capital Francesa. A sensação, desta vez, foi totalmente diferente das que me ocorreram em outros momentos em que seguia para a nação onde formei parte da minha personalidade. Tudo pareceu-me familiar. As facilidades começaram quando, no aeroporto, eu pude utilizar a tecnologia e através de meu celular entrar em contato com meu filho que lá reside, sem ter que trocar o chip do aparelho.
As opções de transporte e locomoção do aeroporto para o centro da cidade, mais exatamente ao lado do Teatro da Ópera, eram várias: trem urbano, metrô, ônibus especiais, táxis e veículos que prestam serviços através de aplicativos.
Optei pelo ônibus, que me daria a oportunidade de, em pleno domingo, ter o contato visual com esta volta a Paris.
O custo de transporte do aeroporto às localidades centrais é inferior ao praticado na Capital Paulista. Chego com a primeira impressão de que efetivamente o Brasil é um país caro que presta maus serviços aos seus habitantes.
Em meia hora encontro-me no ponto final do ônibus e consigo dialogar com o proprietário de um pequeno teatro, ao lado, o qual oferece-me o código de seu wi-fi e novamente volto a comunicar-me. Chega meu filho para encontrar-me e sigo para o local para onde deveria hospedar-me por cerca de 30 dias.
Após revê-lo, prevejo e organizo a minha estada nestes 30 dias de liberdade relativa. Nos primeiros dias a minha intenção, realizada, era a de rever pontos culturais, as espetaculares edificações históricas, os inúmeros parques e praças existentes na cidade e, sobretudo, o contato com a gastronomia local onde a comida não é cara porém os serviços de gastronomia são bastante altos.
Devo ter caminhado, por dia, cerca de dez quilômetros, continuadamente. Relaxei e pensei profundamente no sentido do Viver, no espetáculo Cemitério Père Lachaise e ao mesmo tempo adentrei a universidade onde, por cinco anos, fui induzido ao pensamento mais cartesiano.
Entretanto descobri que eu poderia ir ao porto de Marselha, a 700 quilômetros de Paris, no trem rápido (TGV) que leva duas horas e trinta minutos para percorrer tal distância. Um verdadeiro espetáculo da civilização em país do primeiro mundo. A passagem, por incrível que pareça, custo-me cerca de 70 reais. Em um horário bastante inapropriado, pois o trem saia às seis da manhã da estação ferroviária.
Durante o trajeto, eu vi a França totalmente verde, com seus pequenos castelos incrustados em rochas, com vastas planícies e bosques verdejantes.
Cheguei em Marselha às nove horas da manhã e caminhando fui até o denominado Porto Velho (Vieux Port). O azul celeste e o tom anil do mar fizeram-me parar em um pequeno bar e encomendar dois cafés expressos e dois croissants e, neste momento, ter a sensação de estar livre, sem compromissos laborais mas com o seríssimo compromisso comigo mesmo: tinha alguns dias para ser feliz!
De volta a Paris, continuei minhas andanças e descobertas pois a cidade é tão encantadora que você tem sempre a impressão de ser a primeira vez. Embora, há muitos anos atrás, eu tenha seguido para lá viver e fazem quase cinco décadas que frequento esta urbe que sempre me oferece novidades.
Isso ocorreu em janeiro de 1973.
Ao buscar as facilidades para continuar dentro do espírito de pesquisa que estava tendo para vislumbrar um futuro diferenciado, consegui uma passagem baratíssima para Lisboa.
A Capital Portuguesa emociona pelo zelo com que cuida de seu patrimônio, de suas áreas verdes e como facilita o transporte urbano.
Por incrível que pareça, um café expresso em Lisboa custa menos caro que em São Paulo. Isto lembrando que o Brasil exporta o seu café para ser consumido em Portugal.
Ou seja, há algo muito errado no país em que vivo. O transporte urbano é caótico, a destruição do patrimônio arquitetônico é constante, nossas ruas estão forradas de mendigos e a insegurança tomou conta desta nação: são mais de 60 mil assassinatos (homicídios declarados por ano). Que país é esse?
Voltei de Lisboa para Paris e busquei visitar as maravilhas existentes no entorno da grande cidade: Compiègne e seu parque espetacular, Saint-Germain-en-Laye e todos os locais históricos onde centenas ou milhares de pessoas se estendiam pelos imensos gramados para fazer o seu piquenique dominical. Ninguém temia ser roubado ou ter o seu celular desaparecido sem que percebesse.
Estou de volta ao Brasil há apenas três dias. Vejo o meu país ainda em ebulição porém estou entre os otimistas que acredita que teremos um horizonte menos turvo do que o ocorrido nos últimos 30 anos.
Vive la France!!! Acorda Brasil!!