Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Lisboa, recordar e viver!
14/11/2018


Em um dia frio do mês de fevereiro de 2018, adentro um pequeno restaurante na Capital Portuguesa, a elegante Lisboa, e encomendo o bacalhau cozido da casa.

 - ''Sugiro o bacalhau grelhado, é muito melhor'', argumentou a proprietária do restaurante, uma senhora loura, meia idade e aparentemente tensa. 

- ''Prefiro o bacalhau cozido, pode ser?'', argumentei. 

- ''O grelhado é muito melhor'', reafirmou a mal humorada servente. 

- ''Mas o bacalhau cozido me traz recordações de minha finada mãe'', argumentei. 

Olhando para o lado, mirando o teto e fechando a cara, ela exclama: ''pois que coma então o cozido!!!''

Em um calorento dia do mês de outubro, do mesmo ano, encontro-a no mesmo local e ordeno o mesmo prato, por fidelidade culinária e respeito as pequenas tradições que carrego em meu âmago. 

Recordei-me então que, há nove meses atrás, o prato de bacalhau cozido foi-me servido e, olhando fixamente a senhora, perguntei - ''posso fazer um comentário sobre o bacalhau cozido?'', amedrontada, quase apavorada, a senhora olhou-me atentamente e respondeu secamente - ''pois não, faça-o!''

- ''O prato estava delicioso!''

- ''Vejam, vejam, escutem o que disse o cliente! Que o bacalhau estava delicioso, delicioso disse ele!!!'' e, aos prantos, fazia todos do restaurante ouvirem, ''ele disse que o bacalhau estava delicioso''.

A união do sabor impecável e o resgate de sensação de antanho fizeram-me reviver o precioso momento de felicidade e de reencontro com sabores e saborosas vivências degustativas.

Neste calor de fim de verão, no mês de outubro de 2018, espero novamente pelo bacalhau cozido e já se passaram mais de vinte minutos que aguçam a minha fome e a minha curiosidade.

Chega o prato. Veio cozido, mas não veio ensopado. Novamente, mergulho na linha do tempo ao relembrar-me dos momentos prazerosos vividos em convívio familiar em alguma Sexta-feira Santa perdida na linha do tempo. Volta-me à mente os dias em que estava enclausurado no Colégio Salesiano Dom Luiz Lasagna, em que raramente uma tia vinha visitar-me. Neste curto período de alforria ficou a imagem, também, do bacalhau cozido servido pela gorda e simpática mulata Joana, serviçal da grande casa. 

Passa-me pela mente: Sou portanto um privilegiado errante por viajar nos mundos físico e virtual, no presente e na linha do tempo passado ao reunir, na busca de sensações perdidas, sentimentos emoldurados e preservados que me garantem a satisfação dos momentos por vir.

Em fevereiro de 2019 devo encontrar-me novamente na Capital Portuguesa para descobrir, vislumbrar e registrar o leito de nascimento e de morte de Pedro de Alcântara Francisco António João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon.

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