16h30.
Em 60 minutos seriam inauguradas as obras recuperadas da Praça Ramos de Azevedo, no Centro Histórico de São Paulo. Chovia a cântaros.
A música reinante naquela atmosfera turbulenta continha ritmos "importados" do Nordeste e invadiam nossos tímpanos ao se expandirem e se imporem por alguns quarteirões, de forma peremptória, pois o sorridente proprietário da barraca de alimentos (que estava próxima do local onde me encontrava) não se questionava sobre a sensibilidade alheia ou sobre o direito do citadino de quedar-se em silêncio ou no recato de uma tarde de domingo.
Estávamos no País da Invasão. Os televisores e seus terríveis programas atormentavam os clientes e usuários nos locais públicos ou privados do entorno. Constatava eu, entristecido, a institucionalização do mau gosto e da falta de cultura popular serena.
Sentia no meu âmago que os governantes brasileiros teriam adotado e apostado na "deseducação" como um projeto de implosão da capacidade de raciocínio, de discernimento, de falta de espírito crítico ou cívico, e de não apreciação de valores culturais, educacionais ou morais, que outrora eram indispensáveis à formação do caráter do cidadão brasileiro.
Refletia sobre a postura de muitos concidadãos que sonharam em integrar a máquina política que tornou-se a impulsora legítima de atitudes nocivas ao erário público, à má gestão e à parca zeladoria de nossos patrimônios em logradouros públicos.
Fui mais além ao pensar "Deus meu, os brasileiros estão amaldiçoados e seus governantes são malditos. Não há Projeto de Nação nessa terra cambaleante!"
17h30.
Havia chegado o momento: iriam inaugurar o Conjunto das obras restauradas na Praça Ramos de Azevedo.
Com exceção de pequenos detalhes (como a pintura que não delineava ou não acompanhava os movimentos das formas esculpidas e maculava as linhas curvas ou retas das Obras de Arte concebidas no início do século passado), a tinta escorregadia agredia esteticamente pela falta de cuidados exigidos no restauro, refação e condução dos pincéis que deveriam estar manuseados por hábeis artesãos do ofício da arte. A mão de obra contratada certamente estava carente de instruções sobre o refinamento destes pequenos detalhes que passam muitas vezes desapercebidos pelo grande público ou permanecem percebidos apenas por especialistas e pelos amantes de requintes na expressão artística plena.
Os festejos e os discursos continuavam tranquilos até que o prefeito atuante, João Dória, bradou em alta voz contra "os cachaceiros", "os que não trabalham e que buscam atrapalhar os esforços para que a cidade se torne aprazível". Sentia-se o Prefeito livre para atacar ou para contra-atacar?...
Do alto do Viaduto do Chá que, majestosamente, sobrepassava o vão livre do Vale do Anhangabaú, pequenos grupos de inconformados convictos berravam: - "João coxinha, reacionário!!!".
Face ao torpedo lançado pelo aparentemente destemido Prefeito, os "descontentes" se acovardaram e se calaram. As suaves canções italianas, entretanto, disseminavam harmonia e uma ponta de nostalgia aos que conheceram os "Brasis" de outrora. Quando reinavam Rita Pavone, Pepino di Capri, Sophia Loren, Gina Lollobrigida, Lando Buzzanca, Marisa Mel e... quando o sonho dos brasileiros era extasiar-se em frente da Fontana di Trevi, em Roma, ou aventurar-se pelos tons de anil na Costa Amalfitana, nas límpidas águas do Mediterrâneo.
Com melodia sensível, sons tênues e trilha sonora adequada, a música brasileira também imperava e os presentes se encontravam felizescom a obra entregue no prazo.
Porém meus olhos críticos percorriam as pequenas imperfeições em detalhes do tosco e precário acabamento que, de certa forma, desnudavam a falta de compromisso dos trabalhadores brasileiros para com a estética.
Mesmo assim o conjunto estava belíssimo e me permitiu ousar a manifestar-me junto às empresas parceiras e entidades que se uniram para colaborar para que nós outros, comuns mortais habitantes da cidade de São Paulo, tivéssemos a satisfação de rever a Fonte dos Desejos e as obras de seu entorno recuperadas e entregues à População da então desfigurada Capital Paulista.
Luis Brizzolara, nascido em Chiavari, na Itália, nos presenteou com o monumento a Antônio Carlos Gomes - conjunto escultórico executado pela empresa Camiane eGuastini - Fonderia Artística in Bronzo, Pistóia, Italia -. que teve sua implantação no nobre espaço paulistano em 1922.
Dentre as obras de arte e seus componentes espalhados pela Praça Ramos de Azevedo, extasiei-me e emocionei-me ao apreciar as estátuas em bronze ou em mármore, cuja temática se referia às óperas executadas por Antônio Carlos Gomes: Música, Poesia, Fosca, Condor, Maria Tudor, Schiavo, Fonte dos Desejos-Glória, Salvator Rosa, Guarany, Estados Unidos do Brasil e Itália. Um pouco mais além revi "Rui Barbosa", de autoria de José Cucé, a qual foi implantada em 1930 por iniciativa da "Acadêmicos de São Paulo".
Imponente e sábio, Rui Barbosa, repousava seu braço direito no pedestal em granito que enobrecia a pose e a atitude do grande orador.
As pessoas encontravam-se felizes e honradas ao receber da Gestão Municipal atual de João Dória e das Empresas Patrocinadoras estas obras espetaculares (devidamente recuperadas) e necessitando de apenas um pouquinho mais de cuidado para que a entrega estivesse literalmente perfeita.
O nosso sincero obrigado a todos os envolvidos, ao Prefeito de São Paulo, aos Patrocinadores e Apoiadores e, sobretudo, aos Mentores do Projeto através do Italian Trade Agency - ITA.
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