Após a poderosa chuva tropical que parecia anunciar o retorno à normalidade nesta porção de terra amazônica de Belém do Pará, as águas revoltas da Baía do Guajará e os ventos constantes e cortantes, soprantes e quase uivantes, balançavam os galhos das frondosas mangueiras importadas da Índia e plantadas no inicio do Século 20 para amenizar a temperatura e o clima da capital amazônica.
O céu acinzentado, coberto de nuvens espessas e de aparência austera, parecia anunciar o eco da voz da Mãe Natureza insatisfeita com os desmandos do homem que teima em combatê-la:
“Sou forte, bem mais forte, muito forte e ninguém me destruirá"!!!
Os sinos da Catedral da Sé propagavam o final do dia e a chegada tímida e sutil do anoitecer próximo à linha do Equador. Urubus altivos e imponentes pousaram na cruz branca da Capela do Museu de Arte Sacra e exibiram a sua elegância negra e lúgubre para alguns, majestosa e divina para outros.
...Voltou a chuva! Entre poças d'água e por ruelas antigas, me dirigi à Igreja do Carmo. Adentrei no belíssimo espaço sacro onde o barroco brasileiro estava derramado no altar-mor cintilante, no dourado testemunho de uma época áurea da religião católica e de seu poder na nação brasileira. No centro do cenário, esculpido e folheado a ouro, encontrava-se a Virgem Maria com o seu menino Jesus nos braços.
Apreciei a nave, deslumbrei-me com as pinturas austeras quando começou o ofício sacro, a missa, com pouquíssimos adeptos e presentes, e refleti sobre a importância do misticismo no decorrer da história da humanidade.
O piso de ladrilhos hidráulicos, castigado pelos anos, as colunas de "faux marbre" (mármore falso em técnica exemplar de pintura-ilusão) me conduziram à lembrança do refúgio que sempre busquei na paz dos templos pelo mundo afora: Mesquita Azul, na Turquia; Catedral de Notre Dame de Paris, na França; Igreja da Candelária no Rio de Janeiro; Catedral da Sé, em São Paulo, Catedral de Sevilha, na Espanha e as igrejas barrocas de Minas Gerais e da inebriante Bahia...
Mergulhei na linha do tempo...
...Em 1900, Belém representou de forma competente o Pará na Feira Internacional de Paris. O evento abrigou mais de 40 milhões de visitantes na Capital Francesa.
O intendente Antônio Lemos, administrador da cidade de Belém, no início do século 20, inspirou-se na Cidade Luz, Paris, como exemplo de modernidade da principal metrópole do Planeta naquele momento. Lemos preocupou-se com a rede de esgotos, com o lixo deixado nas ruas de forma desordenada, com o calçamento das ruas, com a segurança, com as áreas verdes e com os parques que permitiriam que a capital paraense estivesse entre as mais modernas e agradáveis cidades da Amazônia e do Brasil. O transporte em comum, através dos bondes elétricos, uma vida cultural intensa e uma atenção especial para a segurança fizeram com que Belém, no período áureo do Ciclo da Borracha, usufruísse de forma intensa do que havia de melhor em Paris, em Londres e em outras importantes cidades do "Primeiro Mundo".