As redes sociais comportam um elemento extremamente pernicioso para se travar discussões ideológicas, que é o ego. Isso se reflete principalmente na ânsia de lacrar em cima dos outros, que supera em muito, muito mesmo, a capacidade de elogiar os acertos.
É comum a pessoa concordar com 99% daquilo que leu, mas concentrar todas as suas energias naqueles 1% para lacrar e sambar na cara do interlocutor, isso enquanto likes e mais likes pipocam na aba de notificações para sua satisfação sádica.
É uma coisa mesquinha, irritante e sei lá mais o que.
Além do óbvio desaparecimento da dialética, que na filosofia é o processo de diálogo, debate entre gente comprometida com a busca da verdade através da contraposição de ideais que possam levar a outras ideias, ainda vemos que a generosidade interpretativa cede lugar a um forçado sentido denotativo na leitura das palavras daquela ao qual se quer confrontar.
Isso cansa.
Nenhuma rede será construída entre nós enquanto não aprendermos a nos respeitar. Estou pensando em nós mesmos, eu e vocês, eu e você, raro leitor. Nenhuma pessoa, por mais forte que seja, resiste a afrontas diárias como as que envolvem falta de consideração pessoal, mínima caridade interpretativa e nenhuma disposição para o falibilismo. Todas adoecem. É humano. Nossos corpos não são blindados.
Infelizmente, muitos vivem do ataque permanente, da ironia grosseira e das ofensas porque precisam chamar atenção pra si. Nenhum tipo de relação construtiva, o tipo que precisamos, será produzida a partir dessas atitudes. Por isso, dá até para traçar uma lei da relação inversamente proporcional entre agressividade e capacidade de construir algo. Pessoas agressivas, mordazes e sarcásticas não por acaso transpiram melancolia, nojo e raiva todo tempo: elas veem o mundo como uma projeção do que elas são. Mas há sempre muitos mundos.
A agressividade é humana, mas para criar um ambiente saudável onde seja possível florescer relações é preciso moderá-la. Sem isso, nada será construído: seremos sugados por quem grita mais alto ou bate mais forte. O que sempre foi a regra de tudo.