14h00. Percebo detalhes. O imponente – e desapercebido – relógio do Mosteiro São Bento, antiga edificação da capital paulista, anuncia a chegada das três da tarde sob um céu azul e a luminosidade cristalina de um mês de outono equatorial. Aguardo, com expectativa de encantamento o badalar dos sinos que anunciarão o Tempo, mestre de nossos destinos.
15h00. Os sinos entoam agora o cântico em louvor à vida. Blein, Blein, Blein. São três sonoras batidas que estremecem os alicerces da própria existência e situam-me na fantasia que carrego de “volver a los diez y nueve” (retroceder ao século dezenove) quando e aonde afogarei meus anseios na suave brisa da Praia de Copacabana, paraíso ainda intocado e perene entre as águas da Baía de Guanabara e a natureza de Mata Atlântica na planície até a subida íngrime na encosta dos morros.
Solto o brado de alerta que ecoa multi-facetado em meu cérebro e revejo a São Paulo de antanho. A Rua Libero Badaró me acolheria na elegante Casa Godinho, inaugurada em 1888, mesmo ano em que os escravos libertos ofereciam lírios brancos à Princesa Isabel naquele histórico 13 de Maio.
O roçar de saias, os longos cabelos soltos e o olhar de soslaio levariam-me à paixão pelo ser feminino de primorosa educação e de sentimentos reais no desejo de construção de uma vida em comum, de parceria e diálogo com os mesmos princípios, objetivos e sonhos.
- Você vive no mundo da fantasia, meu amigo! Caia na real! Estamos no século 21 e você parece um ser desajustado “à la recherche du temps perdu!" , à procura do tempo perdido!
- Abra os olhos e sentimentos e perceba o mundo que te envolve. Ouça o cântico dos pássaros que apregoam de forma majestosa e real o profundo sentido da Liberdade. Você é presumidamente um ser adulto. Tem conhecimentos de vivências de múltiplas Nações do Planeta. Fala diversos idiomas, diz ter muitas personalidades, lê mais de 40 livros por ano, escreve e escreve... medita, dialoga, ouve, comenta, relata, diz, profere e declara amor à vida, mas sinto-o infeliz. O que acontece?
- "Pas de réponse mon vieux. Je ne sais pas!"
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