Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
No lugar dos outros
01/06/2017


“Coloque-se no lugar do outro.” Quem nunca ouviu ou disse essa frase que atire a primeira flor. E você, tem tentado entender como os outros se sentem? Tem tentado buscar compreender uma situação em uma perspectiva que não seja apenas a sua? Será que nós, brasileiros, estamos estabelecendo pontes para o entendimento mútuo, o diálogo, a conversa, o encontro, o caminho em direção ao outro? 

Diferente de vários mitos sobre a identidade nacional que, justamente por serem mitos, são fáceis de contestar, dizer que somos um povo noveleiro não é nenhuma inverdade. E as novelas servem para ilustrar meu texto mequetrefe de auto ajuda. Na frente de uma televisão, assistindo novelas, somos conciliadores, adimitimos que os vilões se redimam e sejam perdoados, torcemos pela ascenção dos mais pobres, torcemos por casais gays, aplaudimos negros protagonistas, elogiamos mulheres independentes. Através das novelas criamos empatia com os personagens mais improváveis, sempre compreensívos com aquilo que julgamos ser genuinamente humano: a inconsistência do ser, nossa dualidade. 

Quando a arte imita a vida, nós fazemos o trajeto até outro com grande facilidade e é até natural que seja assim. Contudo, me admira nossa falta de espanto ao consumir um produto que busca reproduzir nossa realidade sem, no entanto, na vida real, demonstrarmos a menor simpatia por esta mesma realidade. É muito fácil se projetar em um outro que não é de verdade, um outro que não irá te reagir, um outro que não estará no canal seguinte caso você mude no seu controle remoto. É fácil ser solidário assistindo a lindos e românticos retratos da realidade, mesmo aqueles tristes e trágicos, ainda assim são bonitos nas novelas. Novelas romantizam a desgraça. Porem, pobreza não tem nada de romântica, a intolerância não tem nada de romântica, a ignorância não tem nada de romântica, a violência não tem nada de romântica. 

No folhetim da vida real, o que escrevemos nós, é bem mais difícil se colocar no lugar do outro. E por isso mesmo, devemos nos haver o quanto antes com nossa realidade para transformarmos os telespectadores que somos nas pessoas que devemos ser. Certamente valerá o esforço na tentativa de ver o mundo com os olhos do outro e não apenas buscar ver o nosso mundo refletido nos olhos dele. 

 

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