Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Jovens, envelheçam
06/05/2017


A princípio, sem perturbação, acompanhei com certo distanciamento o vir à tona do jogo baleia azul. Afinal, os jovens sempre se suicidaram, mais moço, eu mesmo desafiei, por escolha própria, o limite da morte. Contudo, especialmente a mim que, como educador, tento, com muito fracasso, é verdade, compreender nossa juventude, trato como mais um daqueles assuntos que devemos converter de tabu para domínio público. 

Por falar em limite, acho que este é o principal denominador para entender o suicídio desses jovens. Percebo que os limites abertos para o que o corpo pode sentir empurram para sensação de querer um copo mais cheio, absoluto. Os jovens estão tendo pouca atenção hoje? E quando foi que os jovens tiveram alguma atenção? A questão toda passa pela falência dos afetos. Por vínculos frágeis e descartáveis. Um querer que não se basta, um querer que não se sacia. 

Distúrbios psiquiátricos gerados por coisas que aceleram a ansiedade num grau alucinado. Efeitos colaterais de drogas que foram prescritas na infância para enfraquecer a energia criativa das crianças e obrigá-las a suportar horas e horas em fileiras, dentro de um quadrado burro chamado sala de aula, onde insistimos em empurrar conteúdos medíocres e sem validade à vida prática enquanto as mãos, sempre embaixo das carteiras, com os celulares plugados as redes sociais e mídias que distorcem imagens e transtornam identidades. 

A curiosidade não pode se manifestar por mais de 5min. Logo ela é descortinada e novamente se salta para um outro mergulho na ansiedade a ser saciada. Essa é a geração da dependência. O próprio vício de assistir uma série no Netflix compulsivamente e comentar, ou de estar eternamente ocupado atividades acelera a velocidade da mente. Os corpos não estão quase nunca no mesmo lugar em que a mente está. Por que não eliminar o corpo se ele é algo duro, quase imóvel, enquanto a mente viaja em páginas virtuais elaborando desejos no limite do impossível de serem saciados?

A melhor expressão que me vem agora é a do Nelson Rodrigues: jovens, envelheçam. Envelhecer é trazer o corpo para perto de si. O que não dá para descartar é que essa alta taxa de suicídio (jovens entre 15 e 29, depois de acidentes de transito, morrem mais de suicídio) é um sintoma da alta onda de consumo fácil em que tudo, até o próprio sujeito, torna-se consumível e descartável. Precisamos fazer nossa juventude aprender a não ter. Lidar com a falta. 

Ah, Dostoievski... com séries como 13RW e a romantização do suicídio é o fim dos belos suicidas. 

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