Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
O primeiro livro que eu não escrevi
24/02/2017


Naquela altura eu me sentia um embrião de candidato a Academia Brasileira de Letras. Não havia mais esperança de brilhar no futebol, então a certeza era de que tinha nascido para escrever. Ideia nada complicada: escrever um livro que celebraria meu nome na história de alguma coisa. Estava tudo certo, só restaria plantar uma árvore e ter um filho.

A solução para todos os possíveis problemas estava na própria ideia do livro: a história do grupo de jovens “Juventude, Força e Fé”. Dinheiro? Um financiamento coletivo, que na época conhecia apenas por rifa, garantiria a publicação. Linha editorial? O grupo chegou ao fim depois de vinte e poucos anos. Tanto tempo assim guarda muitas histórias, bastava reuni-las, escrever e pronto. Juntar o material? Uma prosa pós-missa e uma dúzia de e-mails respondidos seriam o suficiente.

Uma ideia incontestavelmente original e bonita. Bonita, mas pouco prática. Primeiro porque o que me entusiasmava não era tanto as águas que haviam passado por debaixo da ponte e sim a vontade de desfilar sobre ela com meu pretensioso talento ascendente. Em segundo, porque apesar de ter integrado um grupo confessional católico, meu cristianismo sempre foi mais informal e vadio que litúrgico. Que deus não se ofenda, mas a principal razão de estar ali era os meus amigos. Os ideais da igreja pouco me entusiasmavam. Só que escrever é liturgia, cada um com o seu percentual de inspiração e transpiração, de qualquer maneira é liturgia, ritual, disciplina, organização e tudo o mais. Eu não era nada litúrgico, não espalhem, mas não evoluí muita coisa.

Haveriam boas histórias, de personagens reais, dos mais variados tipos, com certeza sim. Mas o livro não foi escrito. Eu ainda não tenho um livro. Na ocasião do fim do JFF queria marcar meu nome em sua história através da escrita. O verbo escrever é o meu messias, meu redentor em várias ocasiões. Para mim, talvez, o que não consegui dizer gaguejando nas reuniões do grupo pudesse fazê-lo em um livro. A bem da verdade, era fácil perceber que a timidez que me retraía vez em sempre era apenas um conjunto de anticorpos de um ego inflamado. A timidez venho resolvendo ao escrever, afinal, ninguém é tímido escrevendo.

 

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