"Segura a Nêga, O que faço eu?Segura a Nêga!
Deixa que digam , que pensem, que falem; deixa isso pra lá, vem pra
cá, o que é que tem?.Eu não estou fazendo nada e vocie também. Faz mal
bater um papo assim gostoso com alguem?"
- A música rolava solta no pequeno restaurante-bar do centro velho de
São Paulo. Na mesa, ao lado de um franco de pimenta malageta,livros
espalhados,"Poemas, Contos e Crônicas da Academia Metropolitana de
Letras, Artes e Ciéncias onde estava deliciando-me com o escrever de
crianças de regiões carentes das grandes metrópoles
brasileiras.
" No espelho , a máscara dirige o meu cenário , de mentiras que me
acalmam,no espetáculo de contradições que represento "..."Os poetas
de minha rua têm um alfabeto simples para a poesia rude de seus pés e
mãos . Os poetas de minha rua escalam lendas no asfalto e rocha
bruta.Estes homens têm os rostos comuns, de comum aspereza e de vida
comungada"...
- Fiquei em extase ao reler os jovens autores desconhecidos que
sabiamente nos alertam ,através de suas escritas, para os mistérios
da vida.
"Na esquina, a pressa está tentando se tornar a vida . Promete amanhãs
e quebra o horizonte. Mas o sol vem manso, queimando primeiro a
escuridão. Deus está na pele aberta em poros;nos pelos arrepiados, os
demônios e o frio. A pressa se torna a esquina passada, a vida dobra o
sol e sobe a névoa"...
- Na ponta da mesa ,forrada de toalha de plástico com motivos de
flores ,a obra de Tavares de Amaral ( supervisão do então ainda jovem
Afonso Arinos de Mello Franco) sobre a vida de Rodrigues Alves ,
presidente por duas vezes da Província de São Paulo e um dos melhores
presidentes da República Brasileira que instituiu como obrigatório o
ensino médio e a vacina contra a frebre amarela.Era sempre o primeiro
aluno da classe no renomado Colégio Dom Pedro II e por uma única vez ,
por 6 anos, ficou em segundo lugar quando foi "desbancado" por Joaquim
Nabuco.
-Finda o ano de 2016 e você a falar de suas leitura. Você tem amigos?
- Tenho amigos sim. Amigos eternos . Veja por exemplo, aqui em minha
frente, "Tocaia Grande- a face oculta" do nosso querido e saudoso
Jorge Amado. Tive a oportunidade, nesse ano de crise, de conviver com
obras de meus melhores amigos, amigos estes eternos e companheiros
constantes.
- Sempre achei que você andava perdendo alguns parafusos. E agora me
fala em amigos ocultos ... Já que se sente tão seguro em tal
afirmação, quem são esses "eternos amigos"?
- Ana de Assis, a viúva de Euclides da Cunha ( o genial escritor e
instintivamente assassino sifilítico), Anália Franco (pessoa generosa
e sempre pronta para fazer o bem aos semelhantes),Castro Alves, jovem
gênio que desafiou a estrutura escravagista e que aos vinte anos
purificou prematuramente a nação maculada pelo sangue oriundo dos
maltratos aos escravos provindos em navios negreiros da longínqua
África;José Lins do Rego, que trouxe-me de volta ao Brasil Coronelista
dos engenhos de açucar e a vida de contrastes entre a opulência gerada
pelos canaviais e a rudeza do cotidiano no sertão pernambucano;Rui
Barbosa e sua vida complexa e dedicada `a brasilidade;Antônio
Francisco Lisboa, no romance "O Rio do Tempo", de nosso querido finado
Hernâni Donato; Machado de Assis em " O Alienista" ou "Relíquias de
Casa Velha" ,Bernardo Guimarães ao retratar a espetacular trajetória
de vida em "A Escrava Isaura"; a mizade profunda entre o Homem e o
Cavalo, no espetacular romance "O Gaúcho", de José de Alencar e ,em
outras terras, Émile Zola que sabiamente registra a origem do dinheiro
sujo da família Hotschild durante a reconstrução de Paris pelo Barão
Haussmann, ou revela a miséria da vida em Paris no romance "
L'Assomoir". Sem esquecer meu fiel amigo Honnoré de Balzac cuja
escrita me acompanha anualmente em suas diversas obras ou ;mais
recentemente, minha descoberta das loucuras do suiço Jean-Jacques
Rousseau, pai miserável e reprodutor inconsequente embora tenha sido
um grande filósofo.E por fim, chegaram até mim Eça de Queiroz e
Vinicius de Morais ( Para Viver um Grande Amor) os quais esperam
pacientemente em minha mesa de sala para que eu devore parte de seus
pensamentos em suas obras que tanto me fazem companhia.Que mais deseja
saber?
- Hombre!! homem! , que loucura! Onde acha tempo para ler tanto?
- Não se trata de "achar tempo" mas de dispor de tempo.A leitura me
alimenta, me mantém em contato constante com meus Amigos Eternos e me
leva `a reflexão do sentido da vida.Leio muito sim senhor e sou feliz
dessa forma.
- Feliz Ano Novo então (cada louco com sua mania...eu hein?)
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