Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Quando o santo é demais, a esmola desconfia
03/01/2017


Bem-aventurados aqueles que sabem que 2016 não acabou, que aliás, 2015 também não e daí por diante. Caríssimos coleguinhas, já faz tempo que os anos terminam sem acabar no Brasil, que a desejada renovação não resiste nem mesmo ao tempo da queima de fogos que iluminam o céu quando o calendário volta ao início. 

Perdemos a noção de destino, como andarilhos, moramos na estrada e não sabemos mais para onde estamos caminhando. Moramos no trecho, como dizem os nômades viajantes. E quem não sabe para onde vai...

Não faz tempo assisti uma cena real e muito curiosa, que além de render boas risadas, agora me serve como uma excelente alegoria. Presenciei um grupo de três moradores de rua, completamente embriagados e bem para lá de Marrakesh. Dois deles discutiam por uma garrafa de pinga, a mesma garrafa que o terceiro ia tomando impunemente sem esboçar o mínimo empenho em apaziguar o conflito. Aliás, pelo contrário, o guardador da garrafa vociferava contra um e contra o outro estimulando a treta que os dois bêbados tentavam levar as vias de fato, mas por não conseguirem se sustentar nas pernas, a briga não ia além de socos no ar e abraços assanhados. 

Por que eles brigavam pela pinga já que mesma pinga estava sendo tomada por outro? Qual o sentido daquela discussão já que provavelmente quando terminassem a garrafa já estaria seca? 

Nos anos que não chegam ao fim estamos discutindo pela garrafa de pinga que o guardador vem esgotando direto do alambique. A falta de sentido, a ode ao absurdo, faz com que nossos anos não terminem. Sem um fim não pode haver um começo. E nunca precisamos tanto de novos começos. 

Entre chacinas e massacres 2017 surgiu carimbando com símbolos colossais as faces do que é genuíno da nossa cultura: a violência. Um ex-marido que se autodenominava pessoa do bem, suspeito de abusar sexualmente do filho, com o ego polido pelo discurso moralista e pseudocristão, assassina a sangue frio a ex-mulher, o filho e mais 10 pessoas. Enquanto na capital amazonense apenas em um presidio é registrado o massacre de 56 detentos, que foram mortos, segundo informações oficiais, por guerra entre facções.  O que esses dois casos têm em comum? O discurso que sustenta que temos o direito sobre a vida do outro. E se temos direito sobre a vida alheia podemos inclusive tirá-la. 

No mesmo dia assistimos aos discursos dos novos prefeitos, que com a garrafa de pinga na mão parecem não saber o que fazer. Todos com um discurso muito parecido como o do nosso presidente (diretas já nele), cheios de boa fé e pregando benevolência. Entretanto, quando o santo é demais, a esmola desconfia. Será que vão beber nossa pinga? 

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