Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Espelho Espelho Meu
14/12/2016


Não foi nenhuma vocação ou mesmo amor platônico por algum professor ou professora que me levou a ser um educador. Sem romantismo preciso reconhecer que foi a simples equação da mensalidade do curso dividida pelas vagas de trabalho da área. Simples assim. Desde os meus primeiros estágios, até hoje, sempre senti muito desconforto e resistência a trabalhar a partir das prescrições de leis e portarias, tipo "tem que fazer assim porque está na lei". Isso por dois motivos: primeiro é que prefiro trabalhar na lógica da sensibilização e do debate racional; segundo é que sempre achei que seguiria defendendo as coisas em que acredito, mesmo que fossem ilegais. 

Isso tem tomado meus pensamentos nesse período de avanços avassaladores da direita. Mais do que a eleição de reacionários, me inquieta a cultura política que produz este eleitorado. Sinto que o movimento que sustentamos durante anos, que constrangia as falas reacionárias, não foi efetivo para mudar a cultura das pessoas. E sobre as vozes racistas e machistas, dentre outras, que estavam silenciadas, fica claro que não era porque deixaram de existir, mas apenas porque se sentiam constrangidas. Silenciar o discurso racista afirmando-o como criminoso parece ser pouco efetivo quanto defender uma abordagem formativa apenas porque está na lei. 

Mas então o que eu quero dizer com isso? Não estou tão certo ainda. Mas acredito que seja um incômodo justo para se compartilhar. Pois o que percebo é que as pessoas não são contra as cotas raciais em si, não são contra o aborto em si, não são contra o casamento gay em si, são contra viver uma vida cujo suas convicções sociais e religiosas sejam confrontadas. Cujo o seu ideal de mundo, que por ser tão ideal, atropela a realidade, como tal, ilusório e distante, deve prevalecer. Ou seja, de maneira fascista. 

E partimos de onde para pensarmos nossas estratégias e possibilidades nestes tempos de degenerescência? O nosso contrato social, a Constituição de 88, que tem a mesma idade que eu, me parece saturada de tantas “reforminhas” que mais desapontam caminhos que apontam. Eu também estou. Nossa Constituição não deu as respostas na plenitude que esperávamos dela, nossa educação é ruim, a segurança pública é uma calamidade e já bastam estes exemplos. Penso, entretanto, que em tempos de discórdia, precisamos recompor, precisamos articular as diversidades explicitamente, pois do contrário, a tendência é piorar, já que a atmosfera políticoideologica do país está dominada pelos piores discursos, os de ódio. Precisamos nos tolerar um pouco mais. Precisamos ir em frente, por óbvio, sem deixar de encarar nossa realidade, passou da hora da maturidade, passou da hora de aprendermos a conversar. 

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