Amanhecemos mortos hoje. Quem não amanheceu? Morri no avião que transportava a delegação da Chapecoense para Medellín. Morri, impotente e frágil ante a um avião caído.
Em um voo que nunca irá terminar o céu nunca foi tão negro em Santa Catarina. Nem um voo foi tão nefasto.
Nenhuma ave quer sobrevoar nossas cabeças em uma atmosfera coberta de tristeza. A atmosfera de um dia sequestrado pela tragédia no calendário.
Um voo perpetuo cujo o destino foi o não destino. Um dia que independente da previsão do tempo, é cinza.
As informações se precisaram por volta das 7h30, mas as mortes nunca mais serão contidas.
Morri porque sou amante do futebol e quis um dia estar no mesmo lugar que eles.
Morri porque já me imaginei inúmeras vezes em um acidente aéreo e como sobreviveria a ele.
Morri porque quero viajar mundo a passeio ou a trabalho.
Morri porque confio nos responsáveis por um voo.
Morri porque uma tragédia não cumpre protocolos de direitos humanos.
Morri porque eu já fui de algum modo todos os que morreram.
Morri entre os destroços da morte; como amanhecer de novo?
O voo não aterrissou como o previsto e o dia também não.
Ninguém esperava, ninguém previa, o plano era vencer um jogo.
Não haverá preleção, não haverá entrevistas. Não haverá pôster do time antes da partida.
76 pessoas sem chegar ao seu destino e sem retornar para casa.
As mensagens ainda chegam nos telefones das vítimas desejando boa sorte, bom trabalho...
As famílias ainda buscam por seus filhos, pais, maridos, esposas. A delegação está eternamente no silencioso.
Quem vai responder e avisar o que aconteceu?
Não há nada que se possa dizer. Dizer não diz nada.