Coluna | Periscópio
Wender Reis
Pedagogo e Orientador Social, curioso observador de tudo que causa espanto no mundo.
Querido Professor(a)
18/10/2016


Fim das homenagens do Dias dos Professores talvez você já não esteja mais sob o efeito entorpecente da data e possa encarar a realidade de uma maneira menos passional. Afinal, venhamos e convenhamos, é muito confete que jogam sobre a classe em um único dia, né não? E como todos sabemos, nossa desconfiança tem de ser proporcional a esmola. 

Você já desconfiou? 

O seu dia passou, mas o ano ainda não terminou e os problemas continuam. Escola sucateada, alunos sem motivação e indisciplinados, famílias ausentes, currículo estéril, projetos esclerosados que a direção quer que se cumpra, aprovar alunos que não fazem nenhum esforço para tanto, que ao contrário, te ameaçaram, riscam seu carro e etc. 

Entretanto, contudo, porém, as homenagens do dia 15 foram maravilhosas, finalmente recebeu aquilo que não teve durante o ano todo. Marcações no facebook, mensagens fofas no whatsapp, bombons dos alunos, todo mundo manifestando aquele discurso que querem que você acredite e passe adiante: você é um sacerdote!

Queridos professores, como vocês podem concordar com essa cosmovisão? Quem disse que o masoquismo faz parte desse suposto sacerdócio? Esse discurso do ser abnegado só te fode. Discurso que na boca de um Estado hipócrita e criminoso só te faz santo da boca para fora para te manter sobre a cortina de gestões incompetentes que querem te deixar trabalhando em condições humilhantes. Mas você é um sacerdote, ora, trabalha de graça, sacrifica-se em prol do bem maior. Você escolheu ser professor, já tem uma vaga no céu por isso. 

Amigos, ser professor é uma profissão como outra qualquer e precisa ser tratada como tal. Nenhuma valorização vai vir caso a gente continue a sustentar o discurso dos vocacionados por deus. Tenha dó! Você não é o cordeiro que tira o pecado do mundo. Nossa profissionalização passa primeiro pelo discurso, precisamos realocá-lo em outro lugar, não dá mais para sustentar essa narrativa melosa e descabida. Somos profissionais. Profissionais que podem errar, que podem ser ruins, que podem querer não aceitar as condições, que podem querer melhores salários. Sacerdote não pode nada disso. 

Para encerrar com uma provocação um pouco mais política, creio que falta aos professores mais unidade nacional. “A união faz a força”. Apesar das disparidades regionais, respondemos a uma mesma constituição e temos que fazer valer os direitos garantidos por ela. Quando há uma crise na agricultura existe uma bancada ruralista para defender os interesses dos agricultores na Câmara e Senado Federais. Quando há uma crise na indústria logo os presidentes das grandes associações industriais vão pressionar ministros, deputados e senadores. E isso acontece com a maioria dos setores importantes do país. Mas e a educação, que sempre esteve em crise, quem defende? 

 

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