Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Euclides da Cunha e Ana de Assis
09/06/2015


- Você leu Os Sertões? Consegue imaginar o que foi o martírio dos jagunços quando Euclides da Cunha seguiu para o Sertão, a pedido de Julio Mesquita, o grande jornalista do Estado de S. Paulo, para que cobrisse uma das mais violentas e terríveis histórias de revolta do povo brasileiro?

- Li a obra, sim senhor. A encontrei bastante precisa como se fosse escrita por matemático voltado ao mundo das letras, ao universo das humanidades. Euclides da Cunha foi um gênio e é um monstro sagrado da literatura brasileira.

- Ao perambular por Belém do Pará, entrei em um sebo e descobri o livro da série "A vida dos grandes brasileiros". Na capa, havia o retrato de Euclides da Cunha e a obra tinha sido supervisionada por dois grandes brasileiros que são Afonso Arinos de Mello Franco e Américo Jacobina Lacombe. O autor do texto, Lourenço Dantas Mota, nos apresenta de forma surpreendente a vida do renomado literato quando o mesmo teve a oportunidade de conhecer, em dezembro de 1889, a belíssima filha do Major Solon, que foi o responsável a entregar ao Imperador Dom Pedro II a sua "carta de demissão".  

- Assim que puder, por favor, me empreste o teu livro pois, por coincidência acabo de ler a obra de Judith Ribeiro de Assis em depoimento a Jeferson de Andrade. Este emocionante livro nos apresenta a triste realidade da fatalidade que ocorreu na vida da filha do Major Solon após casar-se com o escritor Euclides da Cunha. 

- Imagino que sejam duas leituras distintas pois em 1909, possuído pelos demônios do ciúme, em uma manhã de 15 de agosto, S'Aninha viveu o horror do início de uma das mais trágicas histórias de vida que eu conheço. Euclides da Cunha buscou assassinar Dilermano de Assis e, covardemente, fez alojar uma bala na coluna vertebral de Dinorah de Assis que suicidou-se no mar do cais de Porto Alegre após ter uma vida sofrida como paraplégico.  

- "Até a absolvição de Dilermano de Assis S'Aninha sofrerá além das angustias das incertezas implacável perseguição por parte de muitos que a rodeavam. Tudo começou naquela manhã de 15 de agosto, ela não teve respeitadas as suas dores, as dores de quem sabia ser vítima de uma desgraça". "Não só a polícia invadiu a casa dos jovens militares, mas também repórteres amigos de Euclides e donos da casa". 

- Excelente engenheiro e exímio escritor, Euclides da Cunha foi, entretanto, um péssimo marido e um pai omisso. Sua sede de conhecimento e de produção literária superava todas as outras atenções que poderiam tirá-lo do foco. Emociona ler as suas reações, a alegria do engenheiro errante quando descobriu que seu livro foi um sucesso. "O que ficou dito de Os Sertões é mais do que suficiente para ter noção da importância de Euclides para a cultura brasileira e da revolução que opera não só na literatura como nos estudos sobre o Brasil". "Com seu livro, Euclides veio mostrar que a literatura não deve ser mero exercício de beletrismo mas estudo e pesquisa. E veio mostrar também que a criação literária a partir da observação dos fatos brasileiros é o caminho para se criar uma verdadeira cultura brasileira", relata Lourenço Dantas Mota no livro publicado pela Editora Três. Entre 1886 e 1809, Euclides teve uma vida tumultuada, inicialmente pela perda da mãe, e transformou a vida de Ana de Assis, Dilermando de Assis, de Dinorah e de seus filhos um verdadeiro calvário. 

- Mas Euclides da Cunha foi assassinado por Dilermando de Assis, não é mesmo? 

- Não podemos ter esta leitura. Dilermando, ainda jovem naquele período, tinha apenas 17 anos quando apaixonou-se por Ana da Cunha que mais tarde seria Ana de Assis, certamente não é um assassino. Ele foi absolvido pois agiu em legítima defesa quando o gênio brasileiro, Euclides da Cunha, estava decidido a subtrair-lhe a vida. 

- Toda a história é muito triste. Ana de Assis perdeu também o seu filho, Euclides da Cunha Filho, que buscou vingar a morte do pai e tentou assassinar Dilermando de Assis. Novamente, para não morrer, Dilermando o matou e Ana de Assis viveu dois pesadelos que tornaram a sua vida uma tragédia constante ao ser catalogada como esposa de assassino, adúltera e depravada por ter amado Dilermando de Assis. 

- Perdi a vontade de ler Os Sertões!!! 

- Penso justamente o contrário. Ao entender as características do grande escritor, o seu sofrimento e as intempéries que teve na vida podemos chegar a conclusão que não estamos aptos de julgar ninguém quando se apresenta a verdadeira fatalidade. Todos os três, Euclides, Ana e Dinorah foram fortes personalidades porém a vida rogou-lhes uma peça e os filhos de Euclides da Cunha e de Ana de Assis sofreram discriminações de uma sociedade injusta e pelo preconceito existente na época. Mesmo assim, a justiça brasileira, desta vez, não falhou. O militar Dilermando de Assis conseguiu ser um excelente profissional que colaborou com o Instituto Geográfico de São Paulo e com o traçado das principais rodovias paulistas e, apesar do sofrimento, provou-se um ser humano ímpar e também um profundo conhecedor do idioma português quando lemos seus livros de autodefesa ou as cartas enviadas à sua amada.

 

- Não deixemos de ler portanto "A vida dos grandes brasileiros - Euclides da Cunha" e "Ana de Assis - História de um trágico amor", para em seguida estarmos aptos a penetrar nos Sertões de Euclides da Cunha.

 

                     

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