Belém, 24 de Janeiro de 2012. No entardecer do dia anterior, sobre as águas iluminadas pelo luar na Baía do Guajará, deslizavam suavemente embarcações em um cenário feérico, onde o homem e a natureza pareciam ser parte de uma extensa harmonia de convivência entre o predador e seu provedor.
Recordei-me da primeira vez, na década de 1970, quando pisei em solo paraense e hospedei-me em uma pequena pensão de frente às docas. Hoje, a Estação das Docas é um dos pontos mais atraentes e turísticos do Estado em que a arquitetura foi adaptada para incluir um conjunto de restaurantes, choperias, lojas de artesanato e pontos de encontro onde a população e os visitantes – forasteiros e turistas – se deleitam no final do dia, quando o céu torna-se rosado e a sensação de paz parece tomar conta de umas das mais belas e elegantes cidades portuárias brasileiras.
Ao reservar toda uma tarde para mergulhar em sensações infinitas onde se abrem as portas da Amazônia, senti-me levado por uma rara sensação de felicidade através do odor de frutas, legumes e do peixe fresco que me provocaram os sentidos como passante sensível no espetacular mercado Ver-o-Peso e seus pequenos restaurantes populares do entorno.
Os vendedores conscientes de sua tarefa dispõem os produtos locais de forma magistral e tem-se então a impressão de aconchego no coração da generosa Amazônia brasileira. Urucum, açaí, graviola, manga, abacaxi, aipim, tapereba, peles bronzeadas, cabelos negros abundantes e lábios salientes; tudo isso misturado se traduz na mais autêntica manifestação estética do ser brasileiro, do Brasil profundo, do Brasil verdadeiro que ainda resiste aos castigos e estragos oriundos do desenvolvimento desordenado e irresponsável na desintegração estética das paisagens de nosso país.
Belém também é vitima da ganância imobiliária, do consumismo exacerbado, do comportamento irracional dos deseducados que têm como alicerce a televisão, a música tecno de baixa qualidade, o automóvel, o ar condicionado e a nefasta paixão pelo futebol, ópio de um povo ignorante e vitima de um regime político equivocado, o qual impôs aos cidadãos que felicidade é o resultado de consumo. De consumo frenético e desavisado. Consumo este que rende votos e mantém a elite burra no poder para o bem estar de todos aqueles que desejam perpetuar-se no comando do país ao manter a população alheia, omissa, ignorante, egoísta e, portanto cada vez mais embrutecida e violenta.
Entretanto, em Belém há seres especiais na contramão da corrente que está mediocrizando de forma brutal o comum brasileiro. Em Belém, há seres pensantes, artistas, intelectuais verdadeiros, professores e cidadãos honestos que lutam de forma árdua, porém concisa, para que não destruam o bem viver e a poesia do compreender a vida amazônica.
Amo Belém. Adoro o Pará. Respeito a Amazônia e espero que todos nós tenhamos o privilégio de rever Belém restabelecida, recuperada, revitalizada e influente na mais importante região brasileira, onde se encontra a maior floresta tropical do Planeta.
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