Coluna | BRASILzão
Fábio Brito
O editor e jornalista Fábio Brito é responsável pela edição e publicação de centenas de títulos voltados às realidades do Brasil. Durante anos esteve à frente de selos editoriais importantes e renomados e no presente momento impulsiona, através de consultorias específicas nas áreas editorial e cultural, os selos Bela Vista Cultural e FabioAvilaArtes. A coluna Brasilzão, inicialmente através do Jornal Correio do Sul, de Varginha, foi iniciada em 11 de julho de 2004 e tem contado com a importante parceria do Varginha Online na disponibilização de vivências de Fábio Brito por todo o Território Nacional e por países por onde perambula em suas andanças.
Uberaba já não existe mais !!!
12/05/2011


- Você tem ido á Uberaba?

- Recentemente tive a oportunidade de assistir a uma missa na igreja matriz , onde jovens universitários festejavam a conclusão dos seus estudos e o início de uma nova vida . Após o evento, saí caminhando pelas ruas do centro e , mais uma vez , constatei o quanto a bela e outrora aprazível cidade interiorana tem sido desfigurada de forma agressiva e incoerente pelos seus habitantes na desenfreada fúria do crescimento demográfico e da pretensa modernidade. Suas ruas são áridas, as edificações antigas foram sendo tombadas para darem lugar à edifícios horrendos com projetos arquitetônicos duvidosos e sem nenhum compromisso com a estética, cultura e raízes locais. O passado de Uberaba agoniza e em breve os poucos vestígios existentes da elegância e do charme de outrora serão conhecidos apenas através de páginas de livros ou de cartões postais saudosistas. É muito triste...

- Sua família é mineira ? Dizem que os mineiros são bairristas, conservadores, discretos, perspicazes e acolhedores...

- Há controvérsias sobre o comportamento de meus conterrâneos. O mineiro é considerado um sovina, pão-duro, dissimulado e quase hipócrita. Entretanto sua mesa é farta, diálogos animados ocorrem à beira do fogão, na cozinha ou em torno de uma mesa da copa ou da sala de jantar. Os habitantes de Minas Gerais adoram freqüentar os bares de esquina, as casas dos amigos, as áreas verdes e bucólicas mas...

- Dou continuidade ao seu raciocínio : Mas...mas Minas Gerais é a terra do mensalão, das falcatruas governamentais, da mentira, da violência e também dos delatores.
- Sem dúvida trata-se de uma terra de contrastes. Suas festas pagãs e religiosas, seus festejos folclóricos e sua fé fazem de Minas Gerais a mais autêntica unidade federativa brasileira cuja bandeira – o pão de queijo – atravessa fronteiras e agrada a todos os paladares, regional, nacional e internacionalmente.

 

- E Uberaba nisso tudo ?

- A capital do Zebu , vive anualmente seu momento de glória quando , no mês de maio, ocorre a maior e mais espetacular exposição de gado do mundo. Uberaba em sua história se desenvolveu como entreposto comercial para Goiás , Mato Grosso e algumas regiões em Minas Gerais. Uberaba foi elevada à a condição de cidade em 1856.

- Eliane Mendonça Marquez de Rezende, em sua obra intitulada “ 1811-1910, Uberaba, Uma Trajetória Sócio-Econônomica” relata o que segue : “ A realização das missas que era ponto obrigatório da população, e a realização das festas religiosas, que se transformaram em grandes festas públicas, como a Festa do Sagrado Coração de Jesus , Festa do Divino, Semana Santa , assegurava à Igreja o controle ideológico da população”

“ As Festas do Divino com os foquetes e e fogos de artifício, a Festa de Nossa Senhora e São Benedito , com músicas , cânticos profanos, batucadas; a Semana Santa com a procissão do Senhor Morto onde a Verônica cantava em determinadas estações e a “queima de Judas” foram atrações que monopolizavam a atenção da população do Município. Havia também as Congadas e Moçambiques que despertavam o interesse da população.

 

- Fico triste, quase deprimido ao ouvi-lo ler o texto do livro de Eliane Mendonça onde a autora pretende preservar parte da memória de Uberaba. Porém existe uma poesia de Gabriel Toti “Uberaba de uma vez” que nos faz pensar e refletir sobre como os brasileiros, os mineiros , e mais precisamente sobre como os uberabenses não têm afeição pelo seu passado e pela sua história.

Ouça-me :
“ A tarde em frente às casas,
Os velhos contando histórias,
Os moços batendo peteca,
Os meninos levados da breca,
Ferrados no pique será.

O João lampião acendendo as luzes,
Alí perto o Cemitério Velho cheio de cruzes.
Os sinos tinham outro tom.
Falavam mais ao coração
Na hora da Ave- Maria...

Finalmente tudo passou, tudo mudou,
Hoje em dia foi-se toda a poesia,
Ficou somente a nostalgia.
Veio a vertigem , veio o progresso,
Tudo em excesso.
Ninguém mais se entende ! ...
Como está tudo tão longe ...
AH...minha Uberaba de uma vez...”

- Imagine você a sensação transmitida por esta bela poesia ocorreu em novembro de 1939. Procure imaginar e constatar como está a Uberaba de 2011. Trata se de uma cidade sufocada e destruída pelos próprios habitantes. Uberaba já não existe mais !!!

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