Uma neblina espessa do penúltimo domingo, úmido, fatídico dia 31 de outubro de 2010, dominava a represa Billings, no Distrito de Riacho Grande, São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, onde convivem 402.460 mulheres e 382.149 homens.
Os para-sóis coloridos, enfileirados, protegiam os visitantes do chuvisco que parecia anunciar a lúgubre notícia de que o Brasil não mudaria, de que a Nação inculta, iletrada, analfabeta, estaria submissa à classe dominante, seja ela político-corrupta ou empresário-gananciosa.
" O senhor votou ?" "Não, não votei. Eu teria que gastar dezessete reais para ir até São Paulo e resolvi não comparecer. Depois eu justifico". Ou seja, a abstenção foi de cerca de vinte por cento, os votos nulos ou inválidos foram inúmeros o que permitiu que na segunda-feira, dia primeiro de novembro de 2010, a representante máxima da Nação, a presidente eleita, declarasse ao ainda atual presidente da Republica Brasileira, em público: "foi você quem inventou tudo isso".
Tristes trópicos, triste Brasil, triste Terceiro Mundo. Triste futuro desse povo cada vez menos informado e levado ao consumo exacerbado como se a felicidade, o bem estar e o equilíbrio fossem dependentes da fúria desenfreada e injusta do possuir, adquirir, comprar, ser enganado ao pagar impostos, cujos resultados serão utilizados em mensalões, em cuecas nos aeroportos, em envelopes, em viagens inúteis, embaixadas fantasmas. A classe média está sufocada e mantém com a carga tributária da qual é vítima, a ganância - e gastança - dos ilustres senhores e senhoras - que fatalmente dizem nos representar. Quanta falácia!
- Cruz credo, por que tanta amargura?
- Porque nos alimentamos da farinha do mesmo saco. Composição quer dizer corrupção. Manutenção forçada no poder graças à ignorância reinante e a manipulação das massas de forma injusta.
- O que o Riacho Grande tem a ver com tudo isso?
- Os freqüentadores da "prainha", dos restaurantes flutuantes, dos passeios aquáticos, são quase todos mestiços, pardos, nordestinos, trabalhadores, migrantes, pessoas humildes e honestas que vivem longe da Ilha da Fantasia (leia-se classes dominantes), que esbanjam dinheiro nas campanhas eleitorais e passam por cima de todos os princípios para usurpar do povo a grande parte do resultado de seus esforços laborais, muitas vezes insanos e heróicos.
- Onde fica Riacho Grande ?
- No caminho da histórica estrada que nos levava, descendo e deslizando de forma sinuosa, da antiga cidade depressiva, São Paulo - fundada pelos jesuítas e ponto de passagem para os mercenários bandeirantes que dizimavam populações indígenas locais escravizando-as, subestimando-as, para buscar o vil metal nas Minas Gerais - até o porto de Santos.
- Como foi a sua tarde? Em geral todos te confundem com artistas, cantores, compositores, enfim, realidades longes do teu dia-a-dia.
- Tem razão. Carrego em mim um poder de atração que me facilita o diálogo com desconhecidos. Isso me fascina. No Riacho Grande ouvi comentários sobre a vida pulsante na periferia sofrida dos subúrbios paulistanos, sobre os saudosistas que deixaram suas terras e suas famílias em busca de uma vida melhor. Comentários sobre os estilos musicais, as novelas água-com-açúcar das redes televisivas, porém não se falou em política, em educação ou em cultura.
- Você não está exagerando? Por que em um domingo frio e chuvoso desejaria que as pessoas entrassem em debates aprofundados do cotidiano, ao nível de reflexões sobre a vida? Francamente!!! Certamente o clima era de festa, de cerveja fria e de manjuba frita.
- Exagerado eu? Exagera o brasileiro que não exerce a sua cidadania ao não votar. Exagera o ventríloquo ao comandar os pensamentos da candidata factóide que será teleguiada, telecomandada, nesta nação bizarra, inculta, nem européia nem americana, não assumida em sua "latinoamericanidad" e arrogante, pois carrega o ônus da ignorância, da falta de educação, da falta de humildade.
O Brasil está sendo destruído. O Cerrado está desaparecendo, a Mata Atlântica está sendo dizimada, a Floresta Amazônica e as águas doces estão minguando, enquanto os sindicatos são acariciados, as invasões de terras e de propriedades alheias incentivadas, o Judiciário comprometido com a injustiça e a ilegalidade, as drogas exportadas dos vizinhos tomam conta do País, a burguesia está cada vez mais ignorante e as nossas cidades estão desfiguradas, áridas, feias. Meu Deus, que país é esse?
- Estamos caminhando para o fim da espécie humana. Das espécies animais, Das espécies vegetais. Da inteligência em prol da cultura e da educação.
- Qual seria a solução? A revolução !!!
- O que??? 1789 é coisa do passado. A Revolução Francesa deu uma lição à humanidade, mas não é necessário uma nova edição do evento sangrento que, literalmente, fez "rolar cabeças e jorrar sangue " pelas ruas da Cidade-Luz.
- Idiota! falo sobre a revolução cultural, educacional, comportamental e patriótica.
- Como assim?
- Sejamos pacientes. Marina Silva deverá ser a nossa representante em 2014.
- Mas Marina Silva é evangélica.
- E daí? Dilma Roussef e José Serra se dizem católicos. Dilma Roussef não representa o lado multicultural do brasileiro. Marina tem sangue índio, sangue negro e sangue branco europeu. E tem algo mais: Marina Silva não se deixou engabelar pela podre máquina do Poder.
- O que?
- Tem propósitos justos, humanos, coerentes. Marina é do bem.
- Dilma Roussef é do mal?
- Não sei. Cabe a ela nos provar a que veio. Que não é pau-mandado. Que tem personalidade. Que é humana. Que é competente. Que é mulher. Que não é um joguete, uma marionete, um factóide, um poste nas mãos de um egocêntrico.
- Credo!!!!
- Seja bem vinda Dilma Roussef. Aceite o seu papel. Seja uma verdadeira criatura. Respeite os brasileiros. Nós precisamos de respeito, de honestidade, de estratégia, de educação e de cultura, de seriedade, de um Presidente da República honesto. Honre o seu cargo Dilma. Seja um ícone. Não se deixe pressionar. Denuncie as falcatruas. Não às esdrúxulas composições. Não ao dolo. Não ao roubo. A população continua em grande parte, faminta. Seja a verdadeira amiga dos brasileiros. Seja você mesma. Seja brasileira. Seja Presidente. Seja bem-vinda se assim for.
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