Cume do Vulcão Acatenango a 4 mil metros de altitude e ao fundo o Vulcão de Fogo, Guatemala (Foto: Arquivo pessoal)
No ano da COP30 no Brasil, o documentarista mineiro Diego Gazola realiza o lançamento do novo episódio da série Nascentes da Crise. Com cerca de 40 minutos de duração e legendado em inglês, espanhol e português, a pesquisa explora a influência ambiental positiva dos furacões na regulação das chuvas em áreas desérticas, assim como também os benefícios socioeconômicos para as comunidades próximas aos locais diretamente afetados. A interação deste fenômeno natural com vulcões também é abordada. A nona etapa foi produzida no México, Guatemala e El Salvador.
A primeira exibição do filme, seguida de bate-papo com o público, vai acontecer nesta sexta (04) às 18h no Memorial do ET em Varginha-MG. A entrada é gratuita. O evento conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Varginha. Após o lançamento presencial na cidade mineira, o documentário vai ser disponibilizado na Internet.
Nascentes da Crise é um formato inovador de Reality sobre clima. O conteúdo investigado durante as expedições são compartilhados em tempo real por meio das mídias sociais. Desde 2015 o projeto aborda o que a ciência explica por meio de teorias e gráficos, e que frequentemente não encontram um formato que desperte o interesse da sociedade pelo tema. As experiências em campo relacionam o ciclo das águas com as mudanças climáticas. O Reality traz reflexões sobre causas e consequências em áreas com históricos ambientais relevantes.
O projeto científico e espiritual completa 10 anos em 2025. Nesta nona etapa, que demandou trinta dias de pesquisa em campo, percorreu mais de 5 mil quilômetros na região em que ocorre a temporada de furacões entre junho e outubro, no hemisfério norte.
Assim como a Amazônia contribui com a regulação do clima em territórios muito distantes do bioma, como o centro-sul da América do Sul, os furacões também desempenham um papel semelhante por meio da umidade que transportam à medida que se deslocam pelo interior da América Central e América do Norte.
Logo no início do filme, é retratado o processo de requalificação de Acapulco, no litoral do Pacífico mexicano após a passagem do Furacão Otis em outubro de 2023. O documentário apresenta depoimentos de moradores locais que compartilham suas experiências sobre os impactos na flora e na fauna da região. Além disso, destaca o interessante benefício socioeconômico que San Marcos, um município vizinho, obteve ao se tornar um ponto de apoio comercial para os refugiados durante esse período crítico.
Na sequência, o documentário expõe os impactos dos históricos furacões Pauline (1997) e Agatha (2022) no litoral do estado mexicano de Oaxaca. Através de uma comparação entre os intervalos entre os dois eventos, é destacado como Santa Maria Tonameca, um dos municípios afetados por ambos, aprendeu com essas experiências e, atualmente, desenvolve estratégias para se tornar mais resiliente diante de futuros fenômenos naturais.
Já na Guatemala são apresentados três histórias relacionadas a furacões, e nestes casos, interações que envolveram também vulcões.
O primeiro remete ao ano de 2005, durante a passagem do Furacão Stan, quando um represamento de água e lodo no cume do vulcão Atitlán se rompeu, devastando o povoado de Panabaj. Uma liderança local foi entrevistada e compartilhou como a vida das pessoas mudou após serem deslocadas para outra região.
Outro exemplo, desta vez ocorrido no século XVI, envolve o Vulcão de Água no entorno de Antígua. Após dias de chuvas intensas, possivelmente causadas pela ocorrência de furacão, um lago na parte superior do vulcão colapsou, resultando em enxurrada que destruiu completamente a antiga capital da Guatemala naquela época.
Por fim, o ativo Vulcão de Fogo, que teve sua última grande erupção em 2018, e que devastou as vilas de El Rodeo e San Miguel Los Lotes. Uma sobrevivente da tragédia, que perdeu dezenas de parentes no local, concedeu entrevista na qual descreve a sua experiência.
Em outra região, ao norte da Guatemala, a pesquisa foi realizada no Parque Nacional Tikal, amplamente reconhecido como berço da civilização Maia. Nesse local, as imponentes construções piramidais de pedra não apenas serviriam a propósitos cerimoniais, mas também funcionavam como proteção contra as intempéries da natureza há centenas de anos.
Já em El Salvador, é destacado a sua capital, San Salvador, que preserva a memória da erupção do vulcão Ilopango. No século VI, esse factual teve consequências globais significativas, reduzindo a temperatura média em todo o planeta.
De volta ao México, em Tulum, situada próxima a Cancun no litoral do Caribe, foram registrados os impactos da passagem de Beryl em julho de 2024. O furacão avançou pelo Golfo do México, levando intensas chuvas para a região desértica ao norte do país, onde se localiza Monterrey, a segunda maior região metropolitana do México. Essas tempestades foram fundamentais para reabastecer os reservatórios de água, que se encontravam à beira do colapso.
Com essa narrativa, o documentário chega ao fim, proporcionando reflexões sobre a água e as mudanças climáticas. Ele explora experiências vivenciais que conectam turismo e processos de aprendizagem, abordando temas ambientais complexos que afetam a humanidade.
SOBRE O PESQUISADOR E PRODUTOR
Durante os últimos 23 anos, Diego Gazola viajou para todos os estados brasileiros e cerca de 40 países realizando pesquisas de conteúdo para a produção de guias de viagem da editora Empresa das Artes. Em paralelo, também desenvolve outros projetos para a Muda de Ideia, um negócio de impacto socioambiental que empreende desde 2009.
Em 2014 foi produtor e apresentador do Reality Expedición RCN Brasil para uma rede de TV colombiana. Durante a expedição, que percorreu de Bogotá até o Rio de Janeiro, ele teve a oportunidade de compartilhar o seu olhar em um roteiro de quase dez mil quilômetros rumo à Copa do Mundo de futebol. Naquela ocasião, pela primeira vez, cruzou por estrada no Peru, uma das transições entre os biomas andino e amazônico.
Participou ainda das Conferências das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas na Dinamarca (COP15), no México (COP16), África do Sul (COP17), Brasil (Rio+20) e França (COP21). Durante o Fórum Mundial da Água em Brasília contribuiu em um debate sobre rios transfronteiriços.
Tem integrado grupos de estudo sobre o tema Água e busca sempre relacionar os seus projetos com a agenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (17 ODS).
MAIS INFORMAÇÕES
Desde 2015 o Nascentes da Crise é transmitido em tempo real pelas mídias sociais: Instagram, Facebook e pelo Twitter (atual X), sempre pela #nascentesdacrise
As sínteses das expedições são compiladas em documentários. Até o momento resultaram em dez filmes produzidos em doze países.
A nona etapa contou com apoio institucional do Instituto Shaneihu Yawanawa e da Muda de Ideia.
Sobre os videodocumentários já produzidos
A primeira etapa produzida entre o Acre e o Peru em setembro de 2014 é balizada no conteúdo do relatório 'O Futuro Climático da Amazônia' do cientista Antonio Donato Nobre (INPE - Brasil). Segundo o estudo, a umidade amazônica “faz uma curva” ao se chocar com a Cordilheira dos Andes naquela região e desce o continente banhando a parte centro-sul da América do Sul, principalmente durante o verão hemisférico. O documentário apresenta três rotas que conectam os Andes à Amazônia: a estrada de terra pelo Parque Nacional del Manu, a rodovia asfaltada Interoceânica e o rio Urubamba que conecta Machu Picchu à Grande Floresta.
Já a segunda etapa abordou a foz do rio da Prata na fronteira entre o Uruguai e a Argentina e foi produzida em dezembro de 2016. Ali se encontra a segunda maior desembocadura de água doce da América do Sul. A região recebe praticamente a totalidade das águas “exportadas” pela Amazônia por meio dos “rios voadores” e são drenadas através de centenas de rios do centro-sul da América do Sul. O documentário apresenta ainda duas das dezenas de comunidades que vivem ilhas no meio do rio da Prata, assim como a visita a Dolores, cidade que foi devastada pelo mais impactante tornado já registrado no continente.
Na terceira etapa, em abril de 2017, foi pesquisado o deserto mais árido do planeta. Localizado no norte do Chile, o Atacama está na mesma latitude média da cidade de São Paulo e de praticamente toda a região sudeste do Brasil. Nessa mesma latitude, na altura do Trópico de Capricórnio, estão outros grandes desertos do Hemisfério Sul como o Central da Austrália na Oceania e o Kalahari que compreende parte da Namíbia, Botswana, África do Sul e Angola na África. O documentário expõe reflexões sobre o gradativo desmatamento, e o desconhecido, polêmico e quase silencioso processo de desertificação do centro-sul da América do Sul.
Já a quarta etapa foi dividida em duas fases no território da Bolívia. O primeiro documentário aborda o entorno do Parque Nacional Amboró na região da Amazônia mais ao sul da América do Sul. O local está na mesma latitude média de Brasília e é conhecido como o cotovelo dos Andes. O filme aborda ainda Potosí, onde está localizado o Cerro Rico, de onde no período colonial foi retirado pelos espanhóis, a maior parte da prata extraída do continente. Sincronicamente a cidade está na mesma latitude média do trecho entre Ouro Preto e Diamantina, palco da exploração do ouro no Brasil colonial português e onde recentemente ocorreram as tragédias de Brumadinho e Mariana. Além disto, o viajante explora locais onde brotam as nascentes amazônicas mais ao sul do continente: Sucre, Cochabamba, Villa Tunari e Buena Vista. Em alguns pontos, a diferença de altitude no caminho dos Andes para a Amazônia chega a 3.500 metros em poucos quilômetros percorridos.
A segunda fase da quarta etapa foi produzida em janeiro de 2018 e também na Bolívia. O Reality partiu novamente de Santa Cruz de la Sierra, porém seguindo em direção oposta, rumo ao norte, para a região amazônica do Beni. Ali se encontram centenas de lagoas artificiais enigmáticas conhecidas como de Moxos, que teriam sido arquitetadas há milhares de anos. Os rios Mamoré e Beni estão entre os principais que formam o rio Madeira, o corpo d’água que em Rondônia, por meio de seus períodos de cheia, potencialmente reflete a umidade que deixa de migrar para o centro-sul da América do Sul, contribuindo para as secas cada vez mais severas nesta região. Para essa produção, a expedição cruzou a considerada mais intransitável entre as estradas bolivianas. O documentário expõe também a transição entre a Amazônia e os Andes na região de La Paz e do Lago Titicaca, passando pelo berço de uma das civilizações mais antigas do continente, a de Tihuanaco.
A quinta etapa foi produzida em territórios do Paraguai e da Argentina.
Produzida em fevereiro de 2019, entre Asunción no Paraguai e Córdoba na Argentina. O entorno do rio Paraguai e rio Paraná concentram as tempestades mais severas do Planeta, segundo a revista científica Nature. Nesta região os sistemas de chuvas estão fortemente correlacionadosao choque entre o fluxo de umidade que provêm da Amazônia e às frentes frias e secas que chegam da Antártida.
A sexta etapa do reality show percorreu a BR-163, entre Mato Grosso e Pará, focando nas controvérsias das queimadas na Amazônia e no "Dia do Fogo". O trajeto iniciou em Nobres-MT, revelando sua beleza natural e a nascente do rio Paraguai. A jornada seguiu para Sorriso-MT, a "Capital do Agronegócio", onde a equipe observou araras consumindo milho transgênico e debateu a exportação de água virtual em grãos. Em Sinop-MT, a influência da Floresta Amazônica no regime de chuvas foi evidenciada após uma tempestade que encerrou 100 dias de seca. Em Peixoto de Azevedo-MT, um garimpo legalizado ligado à COOGAVEPE destacou novas práticas de mineração na Amazônia. Em Novo Progresso-PA, a equipe visitou o jornal Folha do Progresso, que denunciou o "Dia do Fogo". A última parada foi em Itaituba-PA, um ponto de escoamento crucial para grãos exportados pelo rio Tapajós.
A sétima etapa do reality show "Nascentes da Crise" explorou a pesquisa de cientistas americanos e chineses sobre a relação entre o degelo no planalto do Tibete e o surgimento de novos vírus, potencialmente ligados ao SARS-CoV-2. O jornalista Diego Gazola viajou por 30 dias e 5 mil quilômetros na Tailândia, seguindo o curso dos rios Yangtsé, Salween e Mekong, que nascem no Tibete.
A expedição teve início em 11 de março de 2020, quando a OMS declarou a pandemia de COVID-19. Devido às restrições de viagem, Gazola não pôde acessar a China e precisou adaptar seu roteiro, focando nos rios que fluem para o sul e sudeste da Ásia.
O pesquisador coletou amostras de água nos rios Salween e Mekong, incluindo a região do Triângulo Dourado. Ele levanta a hipótese de que a localização de Wuhan, epicentro da pandemia, às margens do rio Yangtsé, pode ser relevante para a pesquisa sobre a origem do vírus.
A oitava etapa do reality show "Nascentes da Crise" propõe uma nova interpretação da chegada dos portugueses ao Brasil em 1500, com base na influência dos "rios voadores" da Amazônia. O documentário, filmado no extremo sul da Bahia, entre a foz do rio Jequitinhonha e a do rio Cahy, explora a hipótese de que a umidade amazônica influencia o regime de chuvas na região.
A análise da Carta de Pero Vaz de Caminha revela que, um dia antes de avistarem terra, os navegadores encontraram pedaços de plantas no oceano, indicando a proximidade da costa. A expedição sugere que o rio Jequitinhonha, com sua alta vazão, pode ter sido responsável por levar essas plantas ao mar.
Historiadores, como Sidrach Carvalho Neto, e membros da comunidade Pataxó corroboram a hipótese de que as chuvas na região vêm do interior do continente, impulsionadas pelos "rios voadores" da Amazônia. Essa umidade teria elevado o nível do rio Jequitinhonha, carregando a vegetação que guiou os portugueses.
Além disso, a expedição explora a região de Itamaraju, onde está localizado o maior e mais antigo exemplar de pau-brasil do mundo, o Monte Pescoço. A pesquisa busca conectar a história da chegada dos portugueses com a geografia e o conhecimento dos povos originários, evidenciando a influência da Amazônia na história do Brasil.
Todas as sinopses e os links para os filmes no YouTube estão disponibilizados gratuitamente pelo site, inclusive o trailer de um minuto deste novo episódio que vai ser lançado.