Em experiência cultural no continente africano, Rafael Mendes pretende ampliar sua pesquisa sobre afro-brasilidade e identidade racial
O estudante Rafael da Silva Mendes, do curso de licenciatura em Espanhol da UNIFAL-MG, foi aprovado para um intercâmbio em Cabo Verde, por meio do edital “Caminhos Amefricanos: Programa de Intercâmbios Sul-Sul”, do Ministério da Igualdade Racial e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). O programa busca promover a cooperação acadêmica entre Brasil, países africanos, latino-americanos e caribenhos, com ênfase no combate ao racismo, na promoção da igualdade racial e na difusão de conhecimentos sobre a História e Cultura Africana e da Diáspora Africana. Rafael foi aprovado em 29º lugar, dentre 50 vagas disponíveis, com o resultado divulgado em 8 de outubro.
Segundo o estudante, o interesse em participar do programa surgiu em dezembro de 2023, quando ele se inscreveu para a primeira edição do edital, que contemplava o intercâmbio para Moçambique, mas não foi aprovado. “Felizmente, em março de 2024, lançaram o novo edital, de Cabo Verde e Colômbia, tentei novamente e passei”, afirmou. Rafael embarca para o país africano, ainda em 2024, no dia 2 de dezembro e retorna ao Brasil no dia 15 do mesmo mês.
Para aprovação, Rafael submeteu a pesquisa “Afro-brasilidade no cinema: uma proposta educativa étnico-racial, audiovisual e antirracista”, desenvolvida como Iniciação Científica, e vinculada ao projeto de extensão “Cinema e leitura de imagens cinematográficas no contexto cultural étnico-racial“, integrante das ações do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI). O estudo teve como objetivo desenvolver ações educativas por meio do cinema, promovendo reflexões sobre a afro-brasilidade, o letramento racial e a história e cultura afro-brasileira. “O intercâmbio ampliará as dimensões das minhas pesquisas sobre a negritude, que estão ligadas ao cinema brasileiro, literatura hispano-americana e à música”, explicou Rafael. O estudo foi desenvolvido sob supervisão dos docentes Ítalo Oscar Riccardi León, Célia Weigert e Geovania Lúcia dos Santos.
Para ele, a oportunidade do intercâmbio representa o encontro com a ancestralidade. “No âmbito pessoal, diz respeito à história de superação não apenas minha, mas da minha família. Vim de uma família pobre da Baixada Fluminense, no Rio de Janeiro, e sempre fui incentivado a estudar”, relatou. “Ser aprovado neste edital transforma mais uma dimensão da minha história — além da aprovação na UNIFAL-MG, em 2022. Um intercâmbio para o continente africano sempre foi um sonho, é me encontrar com meus ancestrais.”
Rafael revelou à Dicom que o apoio institucional foi fundamental no processo de seleção, desde a inscrição até a aprovação. “O NEABI me auxiliou desde a inscrição, com emissão de documento para comprovação de participação do programa e incentivo. Esse apoio se deu desde a presidente do NEABI, Janaína de Mendonça Fernandes, até os professores do projeto que faço parte. Além do NEABI, a antiga coordenadora do curso de Letras-Espanhol, Eliria Quaresma, também auxiliou desde o primeiro momento”, contou
Na oportunidade, o estudante também compartilhou suas expectativas para a experiência em Cabo Verde: “espero conhecer mais do continente africano e de Cabo Verde. O intercâmbio é uma oportunidade de imersão cultural ao povo negro de Cabo Verde, um dos aspectos que mais espero é o encontro com o ‘Crioulo cabo-verdiano’, uma língua local de resistência à colonização”, afirmou.
Em mensagem para colegas, Rafael incentivou os estudantes negros e pardos a continuarem suas pesquisas relacionadas às identidades raciais. “Nenhuma pesquisa é irrelevante e, em um país como o Brasil, o saber científico conectado à identidade racial é crucial para um novo avanço na educação e na sociedade. Iniciativas como essa são muito importantes para a superação do racismo à brasileira e para evidenciar que pessoas negras e pardas estão fazendo grandes pesquisas”, enfatizou.
Apoio Institucional
Além das ações desenvolvidas pelo NEABI, na UNIFAL-MG, Rafael participa de outros projetos de extensão, como “Línguas estrangeiras e suas culturas: socialização e aprendizagem – ensino de espanhol“, coordenado pela Profa. Fernanda Aparecida Ribeiro, e “Literatura além do livro“, coordenado pela Profa. Daniela Silva de Freitas.
Para a professora Janaína Fernandes, presidente do NEABI, a participação de Rafael no programa é um reflexo do trabalho desenvolvido pelo Núcleo. “O Rafael trabalha em ações relacionadas às temáticas tratadas pelo NEABI faz um bom tempo, por intermédio de projetos dos docentes Ítalo León e Geovania dos Santos. Divulgamos o edital e, com muita alegria, a pedido do discente, emitimos uma declaração atestando sua participação para que ele pudesse concorrer”, destacou. “Ficamos muito felizes e orgulhosos com o resultado e acreditamos que este intercâmbio será muito importante na formação do Rafael.”
O professor Ítalo León, orientador de Rafael, também destacou a relevância do intercâmbio para a formação acadêmica do estudante. “Participar de um programa de intercâmbio como o Caminhos Amefricanos, promovido pela CAPES e o Ministério da Igualdade Racial, é de extrema importância para a ampliação da visão de mundo do estudante e para o conhecimento profundo das questões étnico-raciais e afrodescendentes”, afirmou.
Ele também ressaltou a contribuição dessa experiência para a UNIFAL-MG e para a sociedade em geral. “A instituição sai fortalecida, considerando que esses estudantes saem revigorados e preparados para enfrentar o mercado de trabalho, além de estarem mais preparados para os desafios ligados à discriminação racial, preconceito e defesa dos direitos humanos, o que se torna uma grande vitória na formação da pessoa humana e que dialoga prospectivamente com o Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da UNIFAL-MG”, finalizou
O programa “Caminhos Amefricanos: Intercâmbio Sul-Sul” é realizado em parceria com o Ministério da Igualdade Racial, a Universidade de Cabo Verde (Uni-CV) e a Secretaría de Educación Distrital, com sede em Bogotá, na Colômbia.