Em um resultado surpreendente e de grande repercussão, o ex-presidente Donald Trump venceu a eleição presidencial dos Estados Unidos, derrotando a democrata Kamala Harris e conquistando um retorno triunfal à Casa Branca. A vitória foi anunciada pela imprensa americana na manhã desta quarta-feira, 6 de novembro, e confirmou a projeção da CNN de que Trump alcançou 276 votos do Colégio Eleitoral, superando os 270 necessários para a vitória. Com isso, ele se torna o 45º e, simultaneamente, o 47º presidente dos Estados Unidos, uma marca histórica que ecoa a reviravolta do democrata Grover Cleveland, o único outro presidente a retornar ao cargo após uma derrota eleitoral.
Em um discurso na madrugada desta quarta-feira, em sua residência na Flórida, Trump comemorou o resultado, afirmando que "a América nos deu um mandato sem precedentes". A vitória do republicano ocorre em um contexto de forte polarização política e um surpreendente fortalecimento de sua base de apoio, que incluiu um desempenho notável entre eleitores negros e latinos, especialmente homens jovens, além de avanços em estados tradicionalmente democratas como Nova York e a virada histórica na Flórida, que não elegia um republicano em Miami desde 1988.
Trump também obteve uma expressiva vitória no voto popular, somando 68 milhões de votos contra 62,9 milhões de Kamala Harris, superando o número de votos obtidos por Hillary Clinton na eleição de 2016. Essa vitória no voto popular marca um feito inédito para um republicano desde 2004, quando George W. Bush foi reeleito.
A reviravolta de Trump ocorre após um período turbulento desde sua derrota em 2020, quando seus apoiadores invadiram o Capitólio em uma tentativa de reverter os resultados da eleição vencida por Joe Biden. Muitos haviam duvidado da capacidade de Trump de retornar ao cenário político, especialmente após os eventos de janeiro de 2021, mas sua campanha agressiva e cheia de promessas a segmentos insatisfeitos da população, como as classes média e baixa, revelou-se eficaz.
Além da vitória na presidência, os republicanos também retomaram o controle do Senado, garantindo 51 dos 100 assentos, o que coloca o partido em uma posição de força para os próximos quatro anos. O Partido Republicano também se prepara para governar com uma base mais consolidada no Congresso, o que deve dar a Trump maior liberdade para implementar sua agenda, incluindo uma abordagem mais rígida contra a imigração e uma plataforma econômica voltada para cortes de impostos e o combate à inflação.
No campo internacional, o retorno de Trump à presidência gera apreensão, especialmente entre aliados da Otan e na Europa. O ex-presidente tem sido um crítico feroz da aliança militar e, durante sua campanha, afirmou que pretende reduzir o envolvimento dos Estados Unidos em conflitos internacionais. Trump também prometeu encerrar as guerras no Leste Europeu e Oriente Médio "antes de tomar posse", o que foi amplamente visto como uma tentativa de capitalizar a insatisfação do eleitorado com a política externa de Biden.
Em sua plataforma, Trump atacou a gestão de Biden, especialmente em relação à inflação e à situação econômica nos Estados Unidos. Ao se posicionar contra o governo Biden, que enfrentou uma alta inflação nos últimos anos, Trump explorou a memória dos eleitores sobre o crescimento econômico durante seu primeiro mandato, quando os salários e o poder de compra aumentaram.
A vitória de Trump também é uma revalidação do "movimento MAGA" (Make America Great Again), que, segundo analistas, não só continuou a moldar a política do Partido Republicano, mas também abriu caminho para novos líderes, como o jovem senador J.D. Vance, que pode ser o futuro herdeiro dessa base populista. Vance, um aliado próximo de Trump, já é visto como um possível vice-presidente ou sucessor em uma futura eleição.
Porém, a reeleição de Trump também coloca sob risco vários processos judiciais que ele enfrenta, incluindo investigações relacionadas ao ataque ao Capitólio e outras acusações criminais. Com o controle do Departamento de Justiça em mãos, a expectativa é de que o novo governo republicano busque uma estratégia para arquivar ou suavizar essas investigações, o que também pode levar a um reexame de questões envolvendo a sua candidatura em 2020.
O retorno de Trump à Casa Branca inaugura, portanto, uma nova fase para os Estados Unidos, caracterizada por uma política interna mais polarizada e uma abordagem externa de maior isolamento, o que certamente terá impacto tanto para os americanos quanto para o resto do mundo. O ex-presidente assume o cargo novamente em um momento de crescente desconfiança global, especialmente diante da ameaça russa e do crescente desafio da China. A expectativa é de que Trump enfrente uma política interna cheia de desafios, mas com uma base de apoio muito mais sólida e consolidada que em seu primeiro mandato.