Vietnã: um país historicamente lembrado por conflitos e guerras, marcado pelo forte comunismo influenciado pela China e com divergências ideológicas com o capitalismo. O país asiático que tem uma história triste para se lembrar, sabe também que há muitos planos para o futuro e um deles é o de se tornar uma potência esportiva, com o incentivo de muitas empresas que estão investindo pesado em clubes e atletas.
Isso foi o que levou o jogador Caique Lemes, de 27 anos, para o Viettel, clube-empresa que vem em ascensão no Vietnã e na Ásia, com a oferta de uma estrutura de qualidade, a nível de clubes da série A do Brasil, almejando chegar longe e fazer história no lado oriental do planeta. Caique joga pelas beiradas do campo e é vice-artilheiro do time asiático.
Criação em Varginha
Caíque é filho do ex-jogador varginhense Luciano Lemes e da ex-jogadora de basquete Ângela Maria Venâncio. Nasceu em Santo André (SP) em 21 de julho de 1993, quando o pai jogava pelo time da cidade, mas logo aos 4 anos se mudou com a família para Varginha (MG), onde mais à diante daria os primeiros chutes para o gol, na escolinha de futebol da Vila Flamengo, com os treinadores Edson e Simonal.
Ainda passou pelo futebol de salão no VTC – Varginha Tênis Clube, com o professor Ewadson, onde já mostrava as habilidades driblando. Já na adolescência, chegou na SEMEL – Secretaria Municipal de Esportes e Lazer, para treinar com o professor Wendel e mal sabia que ali seria o início da trajetória rumo à carreira profissional no futebol, seguindo os passos do pai.
“Foi uma mudança de Caique moleque que jogava por hobbie, para o Caique que começou a levar a sério e a gostar de futebol. Professor Wendel, para mim, foi o que mudou a chave do Caique”, disse o jogador.
Caíque também lembra com carinho dos bons jogadores de Varginha que atuaram com ele e que infelizmente não tiveram as mesmas oportunidades. Ele ainda diz que Varginha é um celeiro de talentos, onde muitos atletas só precisam de uma chance para se revelarem para o mundo esportivo.
“Tantos jogadores bons em Varginha que eu conheci e não tiveram essa oportunidade que eu tive, que até penso antes do jogo: “Obrigado senhor por essa oportunidade que eu tenho, porque eu vi muitos jogadores em Varginha que não tiveram essa oportunidade e que são até melhores do que eu”, relata o jogador.
Caique com a camisa 10 do VEC, equipe mirim campeã municipal em 2006. Foto: SEMEL
Início da carreira no esporte
Depois de uma partida em que atuou bem e foi o destaque, surgiu a oportunidade de fazer um teste nas categorias de base do Londrina, time do interior do Paraná. Por ser muito cobrado nos estudos, Caique quase deixou de ir por pensar que não daria para conciliar esporte e estudos. A mãe teve um papel fundamental e deu o incentivo para que ele fosse.
Ele foi e deu certo! Passou nos testes e logo foi inscrito no campeonato paranaense na categoria sub-20. O time chegou à final, mas perdeu para o Athletico-PR, mesmo assim foi bom para Caíque – que tinha apenas 17 anos – que deixava boas impressões sempre que atuava. Pouco tempo depois, o jogador assinou o primeiro contrato profissional com o clube, onde ficou por quase 4 anos.
“Assinei meu primeiro contrato profissional e me ajudou muito o Londrina, tive o respaldo dos técnicos que sempre pegavam no meu pé, por que a gente chega cru no time”, disse Caique ao lembrar de como foi o início no time.
Times por onde passou
Quando deixou o Londrina, Caique rodou por alguns clubes do interior de São Paulo e do Rio de Janeiro, entres eles: São Caetano (SP), Juventus da Mooca (SP), União São João de Araras (SP), Friburguense (RJ) e Macaé (RJ). Também passou por clubes da Coréia do Sul e da Áustria, mas por problemas internos teve que voltar ao Brasil, sem sequer ter atuado.
Quando retornou, passou por: Penapolense (SP), Taubaté (SP) e Guarani (SP), até que em 2019 chegou a assinar um pré-contrato com o Fluminense (RJ), mas que foi descartado com a chegada do técnico Fernando Diniz.
Depois disso, teve uma experiência em um clube de Portugal, antes de chegar ao Chiang Mai, da Tailândia, onde se destacou. Hoje, Caíque está no Viettel, clube de uma empresa de telecomunicações que está investindo no futebol. O time está em segundo lugar na V-League (Campeonato do Vietnã), foi vice-campeão da Copa do Vietnã e o jogador criado em Varginha é o vice-artilheiro do time, com cinco gols em 11 jogos na temporada.
No clube vietnamita, Caíque afirma receber tudo o que foi oferecido no contrato e isso agrega positivamente no desempenho dos atletas, inclusive uma estrutura a nível de times da série A do campeonato brasileiro, também contam com tradutor e refeições diferenciadas para os estrangeiros.
Caíque na vitória do Viettel nas semifinais da Copa do Vietnã. Foto: Hiên Nguyên/ Vietnam+
Vida no Vietnã
O país é referência no combate ao coronavírus, neste mês de setembro eram contabilizados mil casos confirmados e 35 mortes, segundo a OMS - Organização Mundial da Saúde. O país tem 1.100 quilômetros de fronteira com a China e declarou guerra ao vírus quando ele ainda estava restrito à cidade de Wuhan. O futebol só foi paralisado em julho e já retornou em setembro, sem público.
Sobre a cultura, o jogador diz que é um país de tradições bem diferentes do Brasil, a culinária é rica em sopas, arroz, peixes e nada de gordura. Também há comidas exóticas, como: ovos de pato fecundado, cobras e até sapo.
O trânsito é caótico, mas as pessoas têm bons costumes. Caíque também lembra que deixou o Brasil com uma impressão totalmente contrária com a que ele encontra no país, ainda diz que é uma nação carismática, não vê violência nas ruas e que é um país que está em constante desenvolvimento, apesar de ser um país comunista.
“Tomei um choque de realidade porque eu vim achando que o país era um país muito pobre. Mas a cidade é uma coisa super organizada em questão de pessoas, de trânsito, não dá para dirigir (risos). É um país que está em desenvolvimento muito rápido!” relata o jogador que está há 7 meses no Vietnã.